quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tapa de espanhol não dói

Dando um tempo na avalanche de notícias sobre a morte de Michael Jackson, o post de hoje fala um pouquinho sobre cultura e pela primeira vez (se não me engano), sobre comida!

No dia 24 de junho, dia de São João, a cidade estava em festa. A diferença entre a festa brasileira e a espanhola é que aqui não vendem canjica. Brincadeira! As festas são completamente diferentes. Para quem imaginava encontrar pessoas vestindo xadrez, chapéu de palha e barraquinhas vendendo milho verde, canjica e paçoca... decepção! A comida típica (ou pelo menos a comida que vendem nas barraquinhas) é churros, que também existe em uma versão pacotinho-com-vários-churros-pequenos chamado de "porras" (o que ainda me rende risadas ao ler).



Roupas típicas não existem na festa daqui, embora na noite anterior a gente tenha testemunhado mulheres velhas vestidas de bruxa e não entendido bulhufas. Quando vimos pessoas pulando sete ondas, entendemos menos ainda. Primeiro, achamos que era como halloween. Depois, igual reveillon. O que diabos é isso, afinal?

Como bons jornalistas, apuramos e entendemos, enfim, o motivo de tudo. Há muitos e muitos anos, os pagãos utilizam o dia de San Juan para fazer a celebração anual deles, sob o pretexto de que estavam festejando o dia do santo. Assim, eles sobreviveram durante muito tempo sem que os católicos desconfiassem e queimassem todos vivos sob a acusação de bruxaria. Por isso, seria uma noite mágica, onde desejos costumam ser atendidos (daí as sete ondas) e onde o fogo e a água representam os elementos purificadores.

Dado isso, existem as famosas Hogueras, celebradas pelo país todo, muitas delas na noite do dia 23. As de Alicante são as mais famosas da Espanha e acontecem na noite do dia 24. Para ver isso, muita gente vem de outros lugares (e também para embebedar-se na praia). Lembram daquelas esculturas tão bonitas, mostradas pela Mina no post anterior? Pois é, elas são espalhadas por vários pontos da cidade e quando o relógio marca meia-noite, começam, pouco a pouco a fazer o seguinte:



Sim, os espanhóis, que parecem tão amáveis e simpáticos (tá bom, forcei a barra agora), queimam tudo! Tacam fogo nas esculturas e do fogo saem fogos de artifício e tudo vira... pó! Simples assim. E quando o fogo começa a subir, chegam os bombeiros para controlar. No caso do vídeo, estávamos no porto, vendo tudo pegar fogo, e quando acabou, começou uma correria absurda. Por um momento, achamos que algo tinha saído do controle, até ver que era um dos barcos que vinha até o cais molhar as pessoas que assistiam ao espetáculo (no final do vídeo, é possível ver adultos correndo e crianças pulando de alegria). Nas fogueiras que ficam no meio das ruas, é nesse momento que muita gente tira a roupa, fica de biquini e começa a cantar: Bombero maricón! (algo como "bombeiro bichinha"). Tudo ensaiado, para que os bombeiros joguem água em todos. Quem é desavisado, como os turistas portugueses que conhecemos no trem de volta, ficam molhados dos pés à cabeça. E a escultura tão legal da Amy Winehouse virou isso:



Vale dizer que antes de toda a festa e do fogo que tomou conta da cidade, paramos pela primeira vez em uma lanchonete bonita por onde passámos todos os dias. E foi lá que, pela também pela primeira vez, comemos as famosas "tapas" (também chamadas de "pinchas"). Existem algumas variações para as tapas espanholas, mas no caso dessa lanchonete, era o seguinte:

Você poderia entrar e pedir as tapas frias ou esperar os garçons que passavam com as quentes. O preço variava entre €1.25, €1.50 e €1.90. Era só pegar o que quisesse e, no final, o garçom conta os palitinhos do seu prato para ver quantas você comeu. Essas tapas eram pedaços de bisnaga cortados e espetados com coisas em cima: linguiça com tortinha de cebola, nuggets, espetinhos de carne, asinhas de frango... basicamente qualquer coisa em cima de um pedaço de pão (mais ou menos como certos rodízios de pizza no Rio de Janeiro). Mas algumas são mais elaboradas, como um barquinho de pimentão com creme de peixe picante. Comemos muitos palitos, ficamos satisfeitos e a conta deu €35 euros no total, para quatro pessoas (eu, Mina, minha mãe e Camila, nossa amiga brasileira daqui - menos de €10 para cada um). Jantar típico e ainda sai em conta!

Chegando na estação de trem, sentamos e esperamos o nosso, com destino final a Benidorm (nossa estação chama-se Creueta). E qual não foi a nossa surpresa ao nos deparar com o seguinte outdoor (sem nada escrito):



Safadinhos esses espanhóis! Imaginem isso em tamanho natural - do chão ao teto da estação. E o mais incrível é que ninguém dava a mí-ni-ma. Imagina isso no Brasil! Achei muito interessante, principalmente porque talvez não levem muito para o lado sexual, apenas a beleza do corpo. Ou será que levam?

Enfim... no trem de volta para casa, lembramos dos tempos de aperto no Rio: a lotação era máxima porque o último trem da madrugada era 1h37. Mas, mesmo no aperto, fizemos amizade com uma chilena que contou uma história emocionante de imigração que a fez chorar (basicamente, ela abandonou a primeira filha para trabalhar como imigrante na Austrália, depois disse que teve uma filha australiana e abandonou também porque agora mora na Espanha com o terceiro marido, e como ela sente falta das netas, nos encontramos diante de uma novela chilena sobre imigração diante dos nossos olhos apertados entre as bundas das pessoas - porque a gente sentou na escada enquanto os outros ficavam em pé). E em meio ao aperto, o casal de portugueses já mencionado se tornou os melhores amigos de infância da minha mãe. E assim fomos para casa conferir o resultado da loteria especial de São João - €15 milhões + €6 mil por mês durante 25 anos! Ainda não foi dessa vez...


3 comentários:

  1. tadinha da Amy, mataram ela antes do Michael...

    o lugar é uma chocolatería, quem tivesse isso aqui :')

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  2. Phil, você é um legítimo narrador, e esse blog é garantia de diversão sempre. Parabéns!

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  3. quando vcs ganharem na loteria me levem com vcs...

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