sábado, 15 de janeiro de 2011

A fabulosa aventura de Mina, Phil e Sofia em Paris

Quem conhece bem a Mina, sabe do sonho de vida dela de conhecer Paris. Como uma menina interiorana nascida em Salvador e criada em Cabo Frio, ela sonhava em ver aquele lugar chique repleto de pessoas falando francês e se amando, andando pela rua naquela clima de amor eterno. Então, finalmente, a hora da grande viagem chegou e Mina conseguiu arrastar a irmã Sofia (nossa leitora número 1 do blog) e o Phil, que ganhou a passagem de presente de natal. O tempo seria curto, apenas 3 dias, mas o suficiente para pelo menos colocar os olhos pela primeira vez na cidade-luz.
Da compra da passagem até a véspera da viagem, Mina & Phil, atolados, não conseguiram planejar absolutamente nada. Nem comprar guias, nem descobrir sobre o transporte, nem mesmo reservar albergue. Foi então que na véspera, às pressas, finalmente conseguimos resolver pelo menos a hospedagem e o básico de transporte. A animação era muita para continuar conquistando o mundo, agora atacando a França.

Dia 1

Acordamos naquela madrugada de terça-feira com o céu escuro, mas prontos para a grande aventura. Saímos na calada da noite para chegar ao aeroporto de manhã e pegar o voo. Foi aí que começaram os problemas. Chegamos ao aeroporto atrasados e após a interminável fila de checagem (onde temos que quase ficar pelados para provar que não levamos nenhuma tesourinha de unha no avião), saímos correndo para chegarmos ao nosso portão, já em última chamada. O detalhe: só havíamos dormido 3 horas na noite anterior. Após a corrida matinal que equivaleu a todos os nossos exercícios físicos no mês (já que não fazemos nenhum fora do trabalho), entramos no avião da Polishop, digo, da EasyJet, onde em 55 minutos recusamos a compra de sanduíches, bebidas, raspadinha, bateria de celular, perfume, relógio, etc.

E enfim, aterrissamos na cidade maravilhosa que tanto sonhamos ir juntos. Pegamos o trem para a cidade e fomos direto ao albergue. A localização era boa, bem central. Deixamos as mochilas, pegamos um quarto ótimo para os três e... descobrimos o banheiro. Ou deveríamos dizer o corredor-sinistro-com-privada-no-fundo-que-parecia-prova-do-Big-Brother? Sim, o banheiro era estranho. Mas resolvemos ignorar e seguimos em frente... até o dedo mindinho do pé do Phil começar a doer. Uma espécie de bolha ou calo mole que estava nascendo resolveu crescer e doer... em Paris! Isso não nos deteve e seguimos na busca de um lugar barato para almoçar - ou supermercado onde poderíamos comprar comida e nos dirigir a um parque. Achamos o primeiro mercado depois de uma grande andada - e os preços praticamente nos convidavam a sair correndo. Continuamos na busca e achamos um LIDL. Para quem não sabe, é o mercado mais estranho, sujo, entulhado e barato da Europa. Criamos coragem, compramos 3 saladas e 2 sanduíches para dividirmos. Na busca por um parque, fomos parados por um francês, certamente piedoso de ver 3 turistas perdidos com sacolas do LIDL, que perguntou: "vocês estão procurando um jardim onde vocês possam sentar e comer?". Nossa! Além de simpáticos, os franceses são bons em adivinhação. Assim, ele indicou o caminho e nós fomos... mas não achamos. Sentamos em um banco molhado na frente de uma faculdade de medicina olhando para uma rua onde não havia nada.

Ok, até então Paris não parecia mais tão atraente... e fomos insistentes em busca da magia do lugar. Pegamos um ônibus e fomos em direção ao Arco do Triunfo. Mas achamos prudente parar em um Mc Donald's para usar o banheiro e de lá ir caminhando. O problema era sermos 3 semi-zumbis mal dormidos, com um manco (Phil, de dedo doendo), depois de um almoço horroroso (ah sim, a comida era ruim e uma das saladas era incomível), parando de minutos em minutos. Achamos o Arco. Bonito, interessante, etc. Mas ainda não era a Paris que esperávamos. E ao mesmo tempo, os franceses todos simpáticos respondiam com belos sorrisos às nossas perguntas em francês
(do tipo "excusez-moi ... est la Tour Eiffel?" ou "com licença... onde é a Torre Eiffel?). O segredo, afinal, era esse. Pergunte em francês e eles mesmos já mudam para o inglês.

E a caminhada continuou. Duraria 20 minutos, mas durou aproximadamente 50, com 3 semi-zumbis sonolentos, sendo um manco, mal almoçados. No meio do caminho, uma doceria convidativa nos fez parar e dividir um doce feito de chocolate, chantilly e Crème Brûlée, que nos fez pensar que poderíamos ter chegado a Paris, enfim. E assim seguimos na busca pelo principal ponto turístico da França. Foi atravessando uma rua e subindo uma escadinha que de repente nos deparamos com ela (após desviarmos de 5 vendedores tentando empurrar miniaturas e falando em português, inglês, espanhol e italiano - por que será que eles continuam vendendo isso?). Lá estava a Torre Eiffel. 324 metros de ferro olhando para nós. Uma imponência singular, os três arrepiados e com vontade de cair no choro. Não havia bolha, banheiro ou falta de sono que fosse tirar o impacto e a alegria de estar ali. Foram fotos, fotos, fotos, fotos e muitos desvios dos vendedores chatos. E lá fomos nós em direção ao monumento maravilhoso. Obviamente, decidimos subir. A pé, porque era 10 euros mais barato. E porque seria mais interessante. Até chegarmos no primeiro estágio da escada, onde o vento intenso e a altura considerável nos fazia pensar: "o que estou fazendo aqui, no meio desses italianos, em um monte de ferro, exposto ao vento intenso numa coisa de mais de 100 anos?". A dor no pé foi praticamente esquecida já que o pavor fez o Phil subir tão rápido que não leu nem os títulos das placas que contavam a história da Torre à medida em que se vai subindo.


A imensidão da vista compensou (um pouco) o pavor da subida e Mina, Phil e Sofia puderam apreciar a vista de uma Paris maravilhosa, repleta de luzes, por algum tempo. E a descida foi de elevador. Após a intensidade da visita, não restaram dúvidas: hora de voltar para o albergue, dormir cedo e se preparar para o próximo dia - onde a lição já teria sido aprendida: não economizar com comida nem com transporte. Voltamos de metrô, que, devemos dizer, é bem ruim (desorganizado, sujo e fedorento - mas não muito caro). E pegamos no sono às 10 da noite.


Dia 2

O segundo dia não começou muito bem, já que o Phil acordou com o olho inchado, causado por uma alergia. Teria sido a salada do supermercado vagabundo ou o doce fino da encantadora loja francesa? E nesse dia conhecemos o chuveiro. A técnica é: você aperta, a água sai. Um minuto depois, a água pára. Você aperta de novo. Ela sai. 1 minuto depois, pára. Ou seja, você precisa apertar o chuveiro a cada minuto para a água continuar saindo. E não havia sabonete. Mas é Paris. E não podemos desanimar em Paris.

Partimos com nossas mochilas, já que nossos planos só incluíam uma noite de albergue e a segunda seria em um apartamento de um amigo, que estaria na cidade e nos receberia. Felizes, com menos dor (mas um pouco de alergia), chegamos a Monmartre. O antigo bairro boêmio de Paris não poderia ser mais charmoso: repleto de cafés antigos, uma praça linda e um artista de rua tocando músicas francesas com uma sanfona. Sim, estávamos em Paris - e ignoramos o grupo de patricinhas brasileiras antipáticas que fingiram que não eram do mesmo lugar que a gente só porque acham que é muito chique viajar para Paris. Após um café-da-manhã gostoso em um café parisiente (não me canso de falar), achamos o café da Amélie Poulain! Para quem não sabe, "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é o filme favorito da Mina e o café onde se passa o filme existe de verdade.

Entramos os três, tiramos milhões de fotos e ficamos sendo observados pelos simpáticos franceses que pensavam: "mais fãs do nosso cinema". E eram realmente tão simpáticos que quando o Phil foi tentar comprar uma água para disfarçar, o atendente disse: "só uma água? vai aqui ao lado que tem uma fonte onde é de graça". E depois dali, partimos para o Moulin Rouge, tema do filme preferido do Phil. O antigo cabaré deu lugar a um teatro moderno onde um musical é encenado diariamente.

A viagem seguiu, a pé, em direção ao Museu do Louvre, uma maravilha gigantesca e linda, repleta de pura arte. A primeira a ser vista foi a Monalisa, cuja localização é indicada por placas espalhadas pelo museu com a foto dela e setas indicadoras (e ainda assim é possível rir dos grupos de japanoses que param qualquer membro do museu para perguntar... "Monalisa????"). O quadro é pequeno, mas Mona (para os íntimos) tem muito mais expressão pessoalmente. E é realmente interessante observar que ela te olha onde quer que você esteja. Medo.

O resto do museu é bem mais interessante, com pinturas maravilhosas e megalomanícas. E assim se foram 3 horas onde não vimos nem metade. E aí sentamos para esperar o telefonema do amigo que nos hospedaria. Mais de uma hora depois, uma mensagem de texto indica que tudo deu errado e... estávamos desalojados. Em Paris, à noite, sozinhos e sem teto. O que fazer?! Voltamos para o albergue na esperança de um quartinho ou pelo menos camas para os três. Conseguimos um quarto juntos. No sexto andar. Sem elevador. O banheiro do andar não só parecia com o anterior como era a metade do tamanho. Se o primeiro era uma prova do “Big Brother”, o segundo era uma prova do “No Limite”. Mas tínhamos um quarto e uma cama. E um americano do Texas na cama de cima da beliche escutando músicas mexicanas para dormir. Sobrevivemos.

Dia 3

Mais uma vez perdemos o café-da-manhã do albergue porque dormimos demais. Mas não desanimamos. Pegamos as coisas e fomos rumo à Catedral de Notre-Dame, um lugar impressionante de grande. Depois, mais um almoço e uma parada em um parque por algum tempo. Estava na hora de se despedir da cidade depois de uma visita rápida e voltar para casa. Fomos ao aeroporto com antecedência para evitar a corrida noturna. E lá esperamos. E esperamos. E esperamos. Quando o número do portão foi divulgado, percebemos que estávamos no Terminal 2 e o voo siria do Terminal 1. Pegamos o trenzinho do aeroporto e lá fomos andando, com a dor no dedo de volta. Chegamos ao Terminal 1, procurando, procurando e procurando. Achamos. E fomos informados de que o voo era no Terminal 2, estávamos enganados. Trenzinho de novo. Chegamos.

Ao passar por mais um controle de passaporte (até agora, a França parece ser o único país que também carimba a sua saída), fomos para um lugar estranho que parecia um limbo. Poucas lojas, pouca gente esperando e quase mais nada. Uma coisa meio "ilha de Lost". Entramos no saguão onde iríamos esperar pelo nosso avião. E vem o aviso: uma hora de atraso. E vem o segundo: uma hora e meia de atraso. E as barrigas roncam. Começamos a contar as moedas e fomos à máquina de biscoito. Compramos dois chocolates e um biscoito, já que a máquina engoliu o troco que serviria para o segundo biscoito. E a barriga ronca. Até que a família de australianos atrás de nós viu o olhar faminto que a Mina lançou para os sanduíches deles e ofereceu um. Barriga para de roncar. O avião chega - após um misterioso grupo de japoneses ter aparecido mais de uma hora depois do horário em que o portão seria fechado, ter entrado e sentado para esperar sem problemas (e só ter esperado um minuto).

Algumas vendas, turbulências e vômitos de criança depois, chegamos a Londres, sãos e salvos. E ao botar o pé na cidade, já conhecemos italianos simpáticos e interessantes e chegamos a tempo do último metrô para casa. É... Paris é maravilhosa, mas o recado está dado. Londres não vai nos deixar sair assim tão facilmente.