sexta-feira, 23 de abril de 2010

Back for good

Foram meses e meses de um hiato que parecia sem fim nesse espaço tão carinhosamente criado para abrigar as aventuras de Mina e Phil em busca da conquista do mundo através do Velho Continente. Mas agora que estamos reunidos novamente, com a força da dupla e inspirados pelo vulcão da Islândia que também voltou à ativa, este blog volta a ser nosso espaço para que todos nos acompanhem.

Com a chegada da Mina em Londres, minhas primeiras impressões da cidade voltaram todas à memória. Quando cheguei, naquele 01 de novembro chuvoso e frio, que eu pensei ser o típico da cidade, achei interessante observar que para todos os lados que eu olhasse havia... indianos! Cheguei a pensar que o avião tinha me deixado por engano em Bombaim. Com o tempo, entendi que realmente eles estão por toda parte, onde você menos espera. Sempre com uma lojinha que quebra o galho, um restaurante no meio do nada e aquele cheiro de curry no metrô.

Felizmente, eles não são os únicos. Não demorei a descobrir que o que Londres tem de mais especial é a falta de... londrinos. Os ingleses aqui já viraram minoria. Claro que o inglês é a língua predominante, mas por todos os lados, você vê franceses, espanhóis, italianos e, é claro, brasileiros. Não passamos um dia sem ouvir outra pessoa falando português, seja no metrô, seja numa loja ou num restaurante. Ou mesmo sem escutar, você se pega no metrô ao lado de um homem com a camisa da seleção brasileira e em frente a uma mulher lendo um livro em português da Zíbia Gasparetto. É a visão do inferno. (brincadeirinha xenófoba)

Outra característica forte daqui é o sotaque, claro. A gente chega crente que está a-ba-lan-do com nosso CCAA ou Brasas. Aí a pessoa te dá informação dizendo que para ir para London Bridge você precisa descer em “ulesthchapouwl”. Aí você pede para repetir. E ele repete... “uhlesthtchapowulh”. Você faz cara de desentendido e pergunta de novo, e aí consegue entender a palavra “west”. Ok, já dá para se virar. Com o tempo, claro, a gente vai se acostumando, inclusive a chamar Sprite de limonada e Catchup de molho de tomate.

E esses seis meses iniciais, onde Mina aperfeiçoou o espanhol e resolveu toda a papelada burocrática com a ajuda de nossos amigos ninjas no Brasil, eu tentava entende o porquê dos meus amigos daqui não gostarem muito de mim, já que ninguém me encontrava ou saía comigo. Mas agora que a primavera chegou (a estação, e não aquela parente nordestina retirante que resolve ir ilegal pra Europa), tudo começou a fazer sentido, já que os telefones e convites se tornaram freqüentes. É que quem não está chegando agora à cidade, não sente a menor necessidade de sair de casa quando a temperatura média é de 8 graus NEGATIVOS e a neve não dá sossego. E você se pega comemorando quando a temperatura chega a 1 positivo. No novo conceito, os 15 graus habituais do momento são um calorão.

Foi logo no início que alguns mitos também foram quebrados. A de que Londres é cara, por exemplo. De fato, transporte e moradia são caros. Mas tudo é relativo quando os salários são maiores e as oportunidades mais abundantes. Para explicar um pouco: a cidade é divida em 6 zonas, sendo a zona 1 a central e a zona 6 a mais afastada do centro. Com isso o preço do metrô varia de acordo com a zona que você utiliza. No nosso caso, moramos na zona 3, em um bairro com muito imigrantes, mas em uma casa altamente confortável e grande, só para nós dois e a dona da casa, com direito a jardim com rede e churrasqueira. Aqui existe um cartão chamado Oyster, que você pode carregar o valor que quiser, mas existem tickets semanais e mensais. No caso do semanal, pagamos 30 pounds, que vale por 7 dias, mas o cartão te dá direito a andar quantas vezes você quiser de metrô e ônibus pelas zonas 1, 2 e 3. Ou seja, não tem essa história de pagar a mais pelo ônibus integração ou pagar passagem toda vez que vai para algum lugar. Uma vez pago o bilhete semanal, o transporte é à vontade. E vale comentar que de madrugada existem ônibus noturnos de 10 em 10 minutos para todos os lugares da cidade e que a maioria dos pontos de ônibus tem um letreiro que te informa em quanto tempo o próximo chega. Isso sem contar que os pontos têm nome e no ônibus você é informado do nome de cada ponto, como no metrô (os nomes não são tipo João ou Maria, tá, gente, são nomes que se referem aos lugares, como Queen Elizabeth Hospital ou Queen Elizabeth Street ou ainda Queen Elizabeth Avenue).

Bom, um post para contar os seis meses seria impossível, então já foi válido contar sobre as primeiras impressões. Agora podemos seguir adiante e ir contando sobre as aventuras dos dois juntos. Vale mencionar aqui que eu consegui emprego em uma semana, em um restaurante muito famoso e adorado que faz parte de uma cadeia enorme. É parte africano, parte português, onde trabalham pessoas do mundo inteiro. E minha função é receber os clientes, escolher uma mesa, conversar e receber um feedback. A Mina conseguiu trabalho em 3 dias em uma tenda de comida brasileira em um mercado super antigo que faz parte de um dos lugares mais diferentes e interessantes de Londres, uma região chamada Camdem Town, que é inclusive onde mora e bebe a Amy Winehouse. Mas as particularidades de trabalho e lugares virão nos próximos posts.

E, para finalizar, um diálogo típico de Mina e Phil, de madrugada na cozinha, após beber uma garrafa de vinho:

Mina: - Quero beber mais.
Phil: - Não vai beber nada, não tem necessidade.
Mina: - Tem sim, eu quero beber. Vou beber esse rum aqui, com coca-cola, ó!
Phil: - Mina, sua alcoólatra, não vai beber rum com coca-cola nenhum!
Mina: - Vou sim! Vou beber esse rum agora.
Phil: - Pois se você beber esse rum, eu vou cozinhar um miojo para mim agora.
Mina: - Você não vai cozinhar um miojo para você a essa hora.
Phil: - Bebe o rum pra ver se não cozinho o miojo...

A noite terminou com a Mina bebendo cachaça e o Phil fazendo torrada.