sábado, 30 de maio de 2009

O último trem

O relógio marcava 22 horas quando saímos de casa. Ainda não havia escurecido completamente, o sol estava terminando de se pôr. Fomos à estação para pegar o último trem do dia, que chegou pontualmente às 22h21. Era ele que iria nos levar à nossa primeira noite espanhola.

Sob pressão da minha mãe, eu e Mina decidimos sair um pouco da vida de nerds e tirar o atraso, finalmente. Resolvemos ir a Alicante, a cidade grande mais próxima daqui, a mais ou menos uma hora de trem (ou o tempo que levávamos para ir todos os dias para o trabalho).

O espírito fanfarrão começou a aparecer quando saímos da estação de Alicante e demos de cara com a placa "Bienvenido al casco antiguo". Casco Antiguo, em Alicante chamado sugestivamente de "El Barrio" (O Bairro), é o local que concentra todos os pubs, cafés e danceterias (como se diz aqui) mais badalados da cidade. O movimento dos bares começa por volta de meia-noite e das danceterias por volta de 1h30. Para fazer hora, decidimos seguir pessoas bonitas para ver se nos levavam ao paraíso. Não levaram.

Achamos uma loja 24 horas, onde uma espanhola percebeu que éramos brasileiros e um marroquino perguntou que idioma estávamos falando. E foi nessa loja, onde um litro de cerveja custava 2 euros, que achamos um velho conhecido a €1,30:



Seguindo em frente, achamos uma rua onde as pessoas bebiam em uma escada, ingleses gritavam quando mulheres bonitas passavam e um movimento intenso de pessoas andava de um lado para o outro. Estávamos no coração d' El Barrio e descobrimos que as boates não cobravam entrada, assim como os bares e pubs. Funciona assim: você entra onde quiser e, se gostar, fica. Algumas pessoas distribuem folhetos te convidando a entrar para conhecer e ganhar chupitos ("shots" de bebida) de graça. Algumas cobram entrada (a média de preço é 50 centavos e a mais cara é € 3,50).

E foi ali, na escada, que fizemos nosso primeiro amigo espanhol, Antoine (com pronúncia francesa, repita comigo: an-to-ãi-ne), que cansou de nos ver tentando fazer uma auto-foto sem sucesso e se ofereceu para ajudar.


Conversamos e foi ali que decidimos que a partir daquele momentos seríamos franceses. Eu, de fato, sou francês de nacionalidade. Mas um francês que não fala francês, né. Então, a Mina, com toda a sua cara de pau nata, não só falava que era francesa, como começava a falar em francês e ouvia até desculpas dos espanhóis por não saberem falar a língua muito bem. E foi assim, aliás, que conhecemos Judith, la chica mas guapa de toda la noche (pelo menos foi o que falei para ela enquanto dançávamos juntos Poker Face).

Infelizmente, não temos registro dela. Mas temos de um casal estilo Barbie-Ken que conhecemos quando a Mina soltou o já característico "noooossa", depois que eu apontei dizendo "mira!", como passei a noite inteira fazendo quando via personas guapas. Depois da expressão incrédula da Mina, o casal parou, olhou e puxou assunto. Primeiro, com uma proposta: que trocássemos de par durante meia-hora. Para quê? "Fuck, fuck", segundo eles, ao perceber nosso espanhol deficiente. Mas calma, minha gente! Estava claro que era só palhaçada. Se bem que... bom, deixa pra lá.




A noite seguiu com os dois fazendo amizades com muitos espanhóis e entrando de graça em várias boates. E não preciso dizer que finalmente conhecemos, de fato, a língua espanhola, né?! (Na minha cabeça essa frase soou melhor). Dançamos muito, bebemos de graça e no final gastamos menos de dez euros, os dois (sendo que a passagem de trem a gente compra um pacote de dez que faz com que ela saia pela metade do preço). E eis que estamos em uma danceteria, no auge da empolgação, dançando com Judith, quando começa uma música um tanto familiar. Uma batidinha que lembrava alguma coisa... e vem a letra:

Es la hora, es la hora... Es la hora de jugar... Brinca, brinca, palma, palma... Y danzando sin parar.





Posso dizer com segurança que eu nunca... mas nunca meeesmo... imaginaria ouvir ILARIÊ em uma boate na Espanha. E o pior: to-dos sabiam cantar junto. Incrível, para dizer o mínimo. E o detalhe é que eu e a Mina éramos os únicos a cantar "rebolando sem parar", porque aqui virou "y danzando sin parar". Por volta de 4h30, as pessoas começam a sair, comer pizza ou kebab (sanduíche turco altamente gorduroso e incrivelmente saboroso, equivalente ao carioca "podrão") e sentar na praça para esperar a estação de trem abrir. Depois de um tempo, sentamos na porta da estação fechada. Aos poucos, mais gente chegava, sentava e esperava. E às 5h30, a porta se abriu e pegamos o trem das 5h44, pontualmente na estação, para voltarmos a VillaJoyosa de alma lavada e exausta.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Uma brasileira e, afinal, uma feijoada

Tenho a sensação de que me tornei mais brasileira assim que desembarquei em Madri. No domingo, fui a um churrasco feito por amigos daqui para nos dar as boas-vindas. A minha cabeça, ainda um pouco de carioca, conseguiu notar que, além de brasileiros, esses amigos eram também paulistas do interior. Por aqui é assim, a gente até esquece de perguntar onde morava ou o que fazia, a quem era do Brasil e agora mora fora.





















Paulistas ou brasileiros, eles são uma família linda e doce. Nos deram uma tarde tão agradável que me fez lembrar de domingos na casa da minha avó, em Petrópolis. Apesar de nunca ter visto nenhum porco-espinho no quintal dela...


Voltando à minha brasilidade, no dia seguinte ao churrasco fomos, a convite do irmão do Phil, o Guy, a um impressionante restaurante indiano. Como brasileira, foi a comida mais diferente que já provei. Coloridíssima, com todos os sabores mais fortes servidos no mesmo prato: Carne de carneiro, gengibre, muita pimenta e infinitos outros sabores dos quais eu nem imaginava a existência.



O Guy, que já trabalhou nesse estabelecimento, o The Maharaja, foi me explicando tudo. Abrir indiano era o sonho da esposa do dono. Ela, que morava na Inglaterra, tinha muita vontade de ter um restaurante na Espanha e viver em um lugar mais quente. Infelizmente, acabou morrendo antes de realizar este sonho. Seu marido então decidiu que faria a vontade da amada falecida e, dois anos após a tragédia, inaugurou seu estabelecimento em VillaJoyosa. O restaurante é um tributo à esposa com fotos dela nos cardápios e na parede. Tudo muito romântico e diferente do que estou acostumada.




Achei que a experiência com a gastronomia indiana acabaria neste tom de cores, temperos e romance, até que cheguei em casa e vomitei tudo. Bem que eu disse que não estava acostumada.

Brasileira que sou, curto mesmo é uma boa feijoada. Inclusive, preparamos uma ontem para os chefes da Margarida, a mãe do Phil. Eles são argentinos, mas disseram que gostaram e até repetiram o prato. Afinal, gentileza é gentileza em qualquer parte do mundo.

sábado, 23 de maio de 2009

Para bailar la bamba...

Sábado à noite em uma pequena cidade no interior do sul da Espanha... dois jovens, Mina e Phil, assistem a um filme em casa enquanto a pequena cidade de VillaJoyosa parece deserta... todos os jovens se planejaram para pegar o trem ou o carro e ir festejar o fim de semana em cidades vizinhas.

Eis que, no meio do filme, músicas conhecidas, músicas de pop espanhol e músicas claramente tocadas por uma bandinha começam a chegar aos ouvidos de Phil e Mina. "De onde vem aquele som?", questionam-se os dois. O relógio marca meia-noite e o cérebro de ambos os lembra de que os amigos brasileiros deveriam estar prestes a sair de casa para se divertir. E nossos intrépidos viajantes decidem, então, seguir a música pelas escuras e desertas ruas do pueblo.

Seguindo o som, começamos a ver um movimento na rua da praia. Jovens, jovens, jovens... os hormônios começaram a se animar. Eis que surge um estacionamento com a placa "Rei Mouro 2009"... fieeeesta! Quer dizer... mais ou menos...




Essa dança que aparece no vídeo é típica daqui e representa a marcha dos mouros e cristianos na antológica batalha espanhola. Tratava-se, portanto, de uma espécie de quermesse de cidade do interior para arrecadar fundos para a grande festa que acontecerá em breve. Só que essa é uma quermesse que reveza a música da bandinha com músicas pop conhecidas (muitas em espanhol, que todos sabem cantar juntos, menos os gringos aqui que chamaram a atenção por filmar e fotografar tudo).

A noite seguiu com nós dois dançando, bebendo de graça e nos divertindo, é claro. Com direito a ser chamado de guapo por um espanhol bêbado. Reparamos ainda que, aparentemente, algumas pessoas andam fantasiadas pela rua sem motivo claro, apenas porque gostam.

Uma sorte acharmos uma festa inusitada em uma cidade tão pequena. Mas é claro que Mina e Phil não se contentariam com um dia sem aventuras. E já estávamos começando a ficar entendiados quando algo sensacional aconteceu. Se você pensa que ir para a Espanha e dançar La Bamba é clichê de filme ou de quem não entende nada de Espanha... enganou-se, meu caro! A festinha seguiu com uma das músicas mais contagiantes da língua espanhola e nós podemos provar!

http://www.youtube.com/watch?v=q2wv_GLlhfQ

por Phil


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A festa que descobrimos hoje é um tipo de quermesse local. Os moradores da vila reunidos em um estacionamento vazio, bebendo muito e dançando ainda mais. Nós dois tivemos a oportunidade de observar, de fora, um dos momentos tradicionais da cidade. De fora porque hablamos pouco espanhol, nunca ouvimos nenhuma das músicas super empolgantes e muito menos conhecemos os passos da dança, meio marcha, que faz com que os jovens quase chorem, emocionados, durante os quatro minutos de sua execução.

É mentira que não conhecíamos suas músicas mais legais. É claro que também dançamos com a surpreendente la bamba, citada pelo Phil, e com aquelas outras que devem tocar em todas as boates, em qualquer lugar do mundo. Como qualquer olhar de fora, o que mais fizemos esta noite foi comparar e julgar:

As meninas são exageradamente maquiadas e bem arrumadas, imagino que seja muito porque maquiagens e roupas são extremamente baratas;
Os homens são muito mais carinhosos uns com os outros e se tocam e se beijam o tempo inteiro;
Pessoas usam fantasias aleatórias aparentemente sem nenhuma razão, ou seja, só porque é legal; As músicas regionais são excelentes e me lembraram bastante as nossas marchinhas de carnaval.

Talvez eu tenha que aprender também um pouco de Valenciano, um dialeto local que é um tipo de mistura de espanhol com francês ainda mais incompreensível que o primeiro. Agora são quatro horas da manhã e a música alta ainda entra pela minha janela. Apesar da tentação, tenho que dormir logo porque amanhã precisamos acordar mais cedo que de costume para um evento social que contaremos mais tarde.
Ah! Hoje assistimos The Burning Plain, um filme ótimo com a Charlize Theron. Ainda não foi lançado no Brasil mas eu recomendo para quando estrear por aí.

por Mina

quinta-feira, 21 de maio de 2009

La playa y la caña

E finalmente chegou o dia em que Phil e Mina, os intrépidos viajantes, foram... ¡a la playa! (Oh - Oh Oh Oh Oh)

Foi uma longa caminhada para depois nos banharmos nas geladas e calmas águas do Mediterrâneo. Phil com sua sunga azul espanhola e Mina com seu primeiro... topless! ¡Ay ay ay, que bueno, tio! Mina embarcou na onda das espanholas e não deixou por menos. Mas como o blog é frequentado por menores de idade, fotos do momento são censuradas.


Aproveitando o passeio, já descobrimos os significados das placas estranhas. Nada de probido azul - ufa! A placa sem mais nada escrito significa que é proibido. Simples assim - proibido. Quando não tem mais nada escrito, é proibido estacionar. Quando tem algo escrito, identifica o que é proibido. Um exemplo:

Bueno... depois fomos a Benidorm, uma cidade vizinha daqui, com nossa nova amiga brasileira Camila, veterinária, solteira, 23 anos, paulista, hehehe. Fomos de trem, que a Mina andou pela primeira vez. Custa um euro a passagem, tem ar condicionado e você compra o bilhete na máquina. Lembra até aquele ônibus, 175, né?! Cof cof.

Lá, passeamos pela rua da praia e paramos em um bar caríssimo onde a atendente me ensinou a pronunciar "jarra" em espanhol (vamos lá, todos comigo: ra-rrrrra, com "r" enrolando a língua, como o Kiko, do Chaves, chorando).


Apesar de ter aprendido a falar, não quisemos a jarra (de novo: ra-rrrrra) porque era realmente cara e não valia a pena. Então mudamos para um bar em uma ruazinha movimentada, onde pedimos cañas, o que é equivalente a chope. Nossa especialista em álcool, Mina, pode dar mais detalhes (até porque eu preferi pedir um milkshake de baunilha e achei melhor contar isso antes que ela revelasse no post dela).




Foi uma tarde gostosa, que terminou às 21h, ou como dizem por aqui, às nove de la tarde, quando o sol começava a se pôr. Andamos, demos uma entradinha na loja outlet da Zara, onde as coisas custavam em média 10 euros, mas nós somos fortes o suficiente para resistir à tentação de comprar roupas e comer na rua. Já basta ter comprado um chip para o meu celular, só pra receber ligações da minha mãe, hahaha. Mas depois ele será muito útil, já que a ligação de celular custa incríveis oito centavos para qualquer número. Isso porque é de uma companhia chamada Yoigo, que é cheia de piadinhas, tipo, quando comprei dizia: "1. Digite o pin. 2. Configure. 3. Ligue para a Maria". Ok, dentro do contexto aqui foi muito engraçado. E eu comprei enquanto tomava minha casquinha de haagen-dazs de 2 euros.




Voltando ao foco! Nosso dia foi isso... e terminamos na estação de trem. Se tem uma coisa chata aqui, é que o trem só passa de meia em meia hora. Mas como a gente não se planeja direito, sempre chegamos no horário errado na estação e ficamos vinte minutos esperando. Com o tempo, a gente aprende...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Primeiras impressões

Não, eu não achei a viagem demorada. Nove horas dentro de um airbus cujo destino é Madri, achei moleza! Apesar das turbulências, e do pavor de ser barrada na entrada, a única parte ruim mesmo foi a impossibilidade de dormir. Um absurdo pagar 2.500 reais para ir apertada entre duas duplas de espanhóis.

O tempo de espera para conexão foi preenchido por buscas em todos os orelhões para, quem sabe, achar mais uns euros. Mas sorte é sorte, não dá para forçar a barra.
Almoçamos no Mac Donald´s onde pude escolher como bebida a cerveja espanhola Mahou (pronuncia-se mau). Portanto, pude começar cedo minha pesquisa sobre a qualidade das cervejas européias. A "mau", como insinua o nome é extremamente amarga, uma delícia.

Ainda não começamos a passear por aqui. Estamos curtindo a semana de férias da mãe do Phil enquanto planejamos nossa vida para os próximos meses.
A Família dele é maravilhosa. São todos extremamente carinhosos e me receberam como a uma filha. A casa onde moramos é uma delícia e tem uma vista incrível:


Estamos pertinho da praia e a nossa rua, calle Cólon, é a principal da vila:


Ontem fomos resolver umas coisas em Alicante, uma das cidades maiores que é vizinha a Villajoyosa. Foi quando eu realmente pude me sentir na Espanha: ruas limpas, carros, ônibus e pessoas respeitando o sinal e placas estranhas:

A placa abaixo existe em toda a parte, o que significa?! Proibido azul?! Ainda tenho muito para aprender.


terça-feira, 19 de maio de 2009

A chegada

Gente, agora sim o blog está inaugurado e depois eu vou mudar o visual e cuidar direitinho. Por enquanto, fica assim para vocês já poderem acompanhar tudo.


Depois de muita choradeira no aeroporto, entramos no avião, que saiu no tempo certo, sem nenhum atraso. A viagem foi tranquila, mas desconfortável como qualquer viagem, né. E teve muita turbulência, a ponto de a gente já até acostumar e nem tirar mais o cinto. O sono era grande, mas não conseguimos dormir quase nada.





Chegando em Madri, o friozinho na barriga de ver se a Mina entraria sem problemas. Ficamos na mesma fila, como se fôssemos namorados. Uma brasileira foi barrada na nossa frente, a tensão aumentou, mas na hora que dei meu passaporte francês, o atendente carimbou o da Mina e passamos na hora, sem problema nenhum. Aí veio a animação e pegamos o trem que tem dentro do aeroporto para irmos até o outro terminal:





Chegando lá, tivemos que fazer hora para pegar o próximo avião. A primeira coisa que aconteceu com a Mina? Achou dinheiro! Hahaha! Fomos em um telefone público e ela achou 2 euros na saída do troco. Tinha que ser com ela, hahaha...

Depois de voltas e voltas, o sono bateu e resolvemos imitar um cara que vimos: juntamos os bancos e tiramos um cochilo. O mais legal é que aqui ninguém liga para nada, as pessoas dormem, andam de qualquer jeito e ninguém tá nem aí. E o mais engraçado: a Mina dormindo no banco enquanto eu lia uma revista e um garotinho chorando muito. Aí vira a mãe do menino e diz: "fica quietinho que a menina tá dormindo". Muito legal!


Chegamos finalmente em Alicante às 17h, as malas demoraram, mas deu tudo certo. Matei um pouco as saudades dos meus pais e desabamos na cama de sono. Agora estamos aproveitando esse início para descansar, tirar umas férias antes de começar a viajar.

O verão aqui tá começando ainda, mas está frio, um ventinho gelado. O fuso-horário ainda não mexeu, mas aqui a minha família faz o horário do Brasil: dormimos de madrugada e acordamos 13h (no Brasil, 8h da manhã).

Acho que é isso, depois a Mina faz o primeiro post. Continuem acompanhando! :) Beijos e saudades!

Ah! E a última foto no aeroporto, antes de sairmos: