Seguindo em frente, achamos uma rua onde as pessoas bebiam em uma escada, ingleses gritavam quando mulheres bonitas passavam e um movimento intenso de pessoas andava de um lado para o outro. Estávamos no coração d' El Barrio e descobrimos que as boates não cobravam entrada, assim como os bares e pubs. Funciona assim: você entra onde quiser e, se gostar, fica. Algumas pessoas distribuem folhetos te convidando a entrar para conhecer e ganhar chupitos ("shots" de bebida) de graça. Algumas cobram entrada (a média de preço é 50 centavos e a mais cara é € 3,50).
E foi ali, na escada, que fizemos nosso primeiro amigo espanhol, Antoine (com pronúncia francesa, repita comigo: an-to-ãi-ne), que cansou de nos ver tentando fazer uma auto-foto sem sucesso e se ofereceu para ajudar.
Conversamos e foi ali que decidimos que a partir daquele momentos seríamos franceses. Eu, de fato, sou francês de nacionalidade. Mas um francês que não fala francês, né. Então, a Mina, com toda a sua cara de pau nata, não só falava que era francesa, como começava a falar em francês e ouvia até desculpas dos espanhóis por não saberem falar a língua muito bem. E foi assim, aliás, que conhecemos Judith, la chica mas guapa de toda la noche (pelo menos foi o que falei para ela enquanto dançávamos juntos Poker Face).
Infelizmente, não temos registro dela. Mas temos de um casal estilo Barbie-Ken que conhecemos quando a Mina soltou o já característico "noooossa", depois que eu apontei dizendo "mira!", como passei a noite inteira fazendo quando via personas guapas. Depois da expressão incrédula da Mina, o casal parou, olhou e puxou assunto. Primeiro, com uma proposta: que trocássemos de par durante meia-hora. Para quê? "Fuck, fuck", segundo eles, ao perceber nosso espanhol deficiente. Mas calma, minha gente! Estava claro que era só palhaçada. Se bem que... bom, deixa pra lá.
A noite seguiu com os dois fazendo amizades com muitos espanhóis e entrando de graça em várias boates. E não preciso dizer que finalmente conhecemos, de fato, a língua espanhola, né?! (Na minha cabeça essa frase soou melhor). Dançamos muito, bebemos de graça e no final gastamos menos de dez euros, os dois (sendo que a passagem de trem a gente compra um pacote de dez que faz com que ela saia pela metade do preço). E eis que estamos em uma danceteria, no auge da empolgação, dançando com Judith, quando começa uma música um tanto familiar. Uma batidinha que lembrava alguma coisa... e vem a letra:
Es la hora, es la hora... Es la hora de jugar... Brinca, brinca, palma, palma... Y danzando sin parar.
Posso dizer com segurança que eu nunca... mas nunca meeesmo... imaginaria ouvir ILARIÊ em uma boate na Espanha. E o pior: to-dos sabiam cantar junto. Incrível, para dizer o mínimo. E o detalhe é que eu e a Mina éramos os únicos a cantar "rebolando sem parar", porque aqui virou "y danzando sin parar". Por volta de 4h30, as pessoas começam a sair, comer pizza ou kebab (sanduíche turco altamente gorduroso e incrivelmente saboroso, equivalente ao carioca "podrão") e sentar na praça para esperar a estação de trem abrir. Depois de um tempo, sentamos na porta da estação fechada. Aos poucos, mais gente chegava, sentava e esperava. E às 5h30, a porta se abriu e pegamos o trem das 5h44, pontualmente na estação, para voltarmos a VillaJoyosa de alma lavada e exausta.