quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Na pizzaria, tudo acaba em água

O melhor de se estar na Europa, creio, é ganhar em euro. Não só porque cada euro vale quase três reais mas também porque a vida aqui é muito, mas muito mais barata. Um exemplo: Todo mundo sabe que a água aqui é cara. Bom, uma garrafa de água mineral, daquelas grandes, no Brasil custa em média um real. A mesma garrafa aqui, na Espanha, custa 30 centavos. Com menos do dois reais saimos do supermerdado com um pacote de seis.
Nas últimas semanas eu tive a sorte de, mesmo sem documento, ser chamada para trabalhar na Pizzaria Liberty, onde a mãe do Phil, Margarida, é gerente. Detalhe: Se um fiscal me descobre, o José, dono da Liberty, paga uma multa de 10.000 euros porque como estou trabalhando ilegalmente, ele está economizando em impostos. A idéia de me chamar foi meio que induzida pela Margarida, na época da festa de Mouros e Cristianos, quando a pizzaria bate recorde de público e o José fica desesperado procurando alguém para ajudar.


Antes de mim ele contratou uma francesa que no fim do primeiro dia, pediu para sair. Sim, o trabalho é pesado. Servir mesas não é tão fácil como parece para quem está sentadinho tomando cerveja. São muitas horas em pé, carregando peso e andando de cima para baixo. Eu adorei. Já não aguentava mais ficar em casa à toa. E, sinceramente, o trabalho é cansativo mas não é impossível. Rola um pouco de frescura por parte do povo aqui na Europa, eles não são acostumados a trabalhar muito. O índice de desemprego está alto devido à crise, mas também tem uma galera que prefere ficar no paro (o auxílio desemprego daqui) do que pegar no batente. No paro, cada trabalhador tem direito a receber por dois anos 80% daquilo que recebia antes de ser demitido. Começa com esse valor mas vai diminuindo um pouco ao longo do tempo. Por isso que aqui todo mundo só fala de crise, mas a pizzaria está sempre cheia.

Pois é, eles não estão acostumados a trabalhar muito mas têm pavor dos estrangeiros que chegam todos os dias para "tirar os seus empregos". Numa pesquisa que vimos no telejornal daqui, para os espanhóis, o pior problema do país é a presença de imigrantes. Na pizzaria, só trabalha um espanhol, o Joaquin, que nasceu e cresceu em Villajoyosa.


Todos os outros, inclusive o dono, são estrangeiros. A maioria é de países da América Latina. Sendo que, dado interessante, a cozinheira, Tati, é da Lituânia. Ela trabalhava como engenheira em uma fábrica de carros, quando o seu país era comunista. Tati afirma categoricamente que a vida de todos era muito melhor naquela época, porque tinham comida, roupa e estudo. É claro que deve ser mais satisfatório ser engenheira do que passar o dia fritando batatas. Mas, com a queda do comunismo, as fábricas foram fechadas, ela perdeu o emprego e teve que vir para outro país para conseguir criar os dois filhos.


Eu, que não tenho que alimentar filho nenhum, e estou aqui meio que de farra, acho o trabalho na pizzaria super divertido. Para mim foi só vantagem, sair de casa, fazer alguma coisa nova, praticar o espanhol e ainda ganhar uma graninha, ou granona, são 50 euros por dia de trabalho. Tenho trabalhado aos sábados e domingos (dias mais difíceis de se encontrar um fiscal trabalhando), portanto, são 100 euros por semana. Dá para comprar mais de 300 garrafas grandes de água.