sábado, 15 de janeiro de 2011

A fabulosa aventura de Mina, Phil e Sofia em Paris

Quem conhece bem a Mina, sabe do sonho de vida dela de conhecer Paris. Como uma menina interiorana nascida em Salvador e criada em Cabo Frio, ela sonhava em ver aquele lugar chique repleto de pessoas falando francês e se amando, andando pela rua naquela clima de amor eterno. Então, finalmente, a hora da grande viagem chegou e Mina conseguiu arrastar a irmã Sofia (nossa leitora número 1 do blog) e o Phil, que ganhou a passagem de presente de natal. O tempo seria curto, apenas 3 dias, mas o suficiente para pelo menos colocar os olhos pela primeira vez na cidade-luz.
Da compra da passagem até a véspera da viagem, Mina & Phil, atolados, não conseguiram planejar absolutamente nada. Nem comprar guias, nem descobrir sobre o transporte, nem mesmo reservar albergue. Foi então que na véspera, às pressas, finalmente conseguimos resolver pelo menos a hospedagem e o básico de transporte. A animação era muita para continuar conquistando o mundo, agora atacando a França.

Dia 1

Acordamos naquela madrugada de terça-feira com o céu escuro, mas prontos para a grande aventura. Saímos na calada da noite para chegar ao aeroporto de manhã e pegar o voo. Foi aí que começaram os problemas. Chegamos ao aeroporto atrasados e após a interminável fila de checagem (onde temos que quase ficar pelados para provar que não levamos nenhuma tesourinha de unha no avião), saímos correndo para chegarmos ao nosso portão, já em última chamada. O detalhe: só havíamos dormido 3 horas na noite anterior. Após a corrida matinal que equivaleu a todos os nossos exercícios físicos no mês (já que não fazemos nenhum fora do trabalho), entramos no avião da Polishop, digo, da EasyJet, onde em 55 minutos recusamos a compra de sanduíches, bebidas, raspadinha, bateria de celular, perfume, relógio, etc.

E enfim, aterrissamos na cidade maravilhosa que tanto sonhamos ir juntos. Pegamos o trem para a cidade e fomos direto ao albergue. A localização era boa, bem central. Deixamos as mochilas, pegamos um quarto ótimo para os três e... descobrimos o banheiro. Ou deveríamos dizer o corredor-sinistro-com-privada-no-fundo-que-parecia-prova-do-Big-Brother? Sim, o banheiro era estranho. Mas resolvemos ignorar e seguimos em frente... até o dedo mindinho do pé do Phil começar a doer. Uma espécie de bolha ou calo mole que estava nascendo resolveu crescer e doer... em Paris! Isso não nos deteve e seguimos na busca de um lugar barato para almoçar - ou supermercado onde poderíamos comprar comida e nos dirigir a um parque. Achamos o primeiro mercado depois de uma grande andada - e os preços praticamente nos convidavam a sair correndo. Continuamos na busca e achamos um LIDL. Para quem não sabe, é o mercado mais estranho, sujo, entulhado e barato da Europa. Criamos coragem, compramos 3 saladas e 2 sanduíches para dividirmos. Na busca por um parque, fomos parados por um francês, certamente piedoso de ver 3 turistas perdidos com sacolas do LIDL, que perguntou: "vocês estão procurando um jardim onde vocês possam sentar e comer?". Nossa! Além de simpáticos, os franceses são bons em adivinhação. Assim, ele indicou o caminho e nós fomos... mas não achamos. Sentamos em um banco molhado na frente de uma faculdade de medicina olhando para uma rua onde não havia nada.

Ok, até então Paris não parecia mais tão atraente... e fomos insistentes em busca da magia do lugar. Pegamos um ônibus e fomos em direção ao Arco do Triunfo. Mas achamos prudente parar em um Mc Donald's para usar o banheiro e de lá ir caminhando. O problema era sermos 3 semi-zumbis mal dormidos, com um manco (Phil, de dedo doendo), depois de um almoço horroroso (ah sim, a comida era ruim e uma das saladas era incomível), parando de minutos em minutos. Achamos o Arco. Bonito, interessante, etc. Mas ainda não era a Paris que esperávamos. E ao mesmo tempo, os franceses todos simpáticos respondiam com belos sorrisos às nossas perguntas em francês
(do tipo "excusez-moi ... est la Tour Eiffel?" ou "com licença... onde é a Torre Eiffel?). O segredo, afinal, era esse. Pergunte em francês e eles mesmos já mudam para o inglês.

E a caminhada continuou. Duraria 20 minutos, mas durou aproximadamente 50, com 3 semi-zumbis sonolentos, sendo um manco, mal almoçados. No meio do caminho, uma doceria convidativa nos fez parar e dividir um doce feito de chocolate, chantilly e Crème Brûlée, que nos fez pensar que poderíamos ter chegado a Paris, enfim. E assim seguimos na busca pelo principal ponto turístico da França. Foi atravessando uma rua e subindo uma escadinha que de repente nos deparamos com ela (após desviarmos de 5 vendedores tentando empurrar miniaturas e falando em português, inglês, espanhol e italiano - por que será que eles continuam vendendo isso?). Lá estava a Torre Eiffel. 324 metros de ferro olhando para nós. Uma imponência singular, os três arrepiados e com vontade de cair no choro. Não havia bolha, banheiro ou falta de sono que fosse tirar o impacto e a alegria de estar ali. Foram fotos, fotos, fotos, fotos e muitos desvios dos vendedores chatos. E lá fomos nós em direção ao monumento maravilhoso. Obviamente, decidimos subir. A pé, porque era 10 euros mais barato. E porque seria mais interessante. Até chegarmos no primeiro estágio da escada, onde o vento intenso e a altura considerável nos fazia pensar: "o que estou fazendo aqui, no meio desses italianos, em um monte de ferro, exposto ao vento intenso numa coisa de mais de 100 anos?". A dor no pé foi praticamente esquecida já que o pavor fez o Phil subir tão rápido que não leu nem os títulos das placas que contavam a história da Torre à medida em que se vai subindo.


A imensidão da vista compensou (um pouco) o pavor da subida e Mina, Phil e Sofia puderam apreciar a vista de uma Paris maravilhosa, repleta de luzes, por algum tempo. E a descida foi de elevador. Após a intensidade da visita, não restaram dúvidas: hora de voltar para o albergue, dormir cedo e se preparar para o próximo dia - onde a lição já teria sido aprendida: não economizar com comida nem com transporte. Voltamos de metrô, que, devemos dizer, é bem ruim (desorganizado, sujo e fedorento - mas não muito caro). E pegamos no sono às 10 da noite.


Dia 2

O segundo dia não começou muito bem, já que o Phil acordou com o olho inchado, causado por uma alergia. Teria sido a salada do supermercado vagabundo ou o doce fino da encantadora loja francesa? E nesse dia conhecemos o chuveiro. A técnica é: você aperta, a água sai. Um minuto depois, a água pára. Você aperta de novo. Ela sai. 1 minuto depois, pára. Ou seja, você precisa apertar o chuveiro a cada minuto para a água continuar saindo. E não havia sabonete. Mas é Paris. E não podemos desanimar em Paris.

Partimos com nossas mochilas, já que nossos planos só incluíam uma noite de albergue e a segunda seria em um apartamento de um amigo, que estaria na cidade e nos receberia. Felizes, com menos dor (mas um pouco de alergia), chegamos a Monmartre. O antigo bairro boêmio de Paris não poderia ser mais charmoso: repleto de cafés antigos, uma praça linda e um artista de rua tocando músicas francesas com uma sanfona. Sim, estávamos em Paris - e ignoramos o grupo de patricinhas brasileiras antipáticas que fingiram que não eram do mesmo lugar que a gente só porque acham que é muito chique viajar para Paris. Após um café-da-manhã gostoso em um café parisiente (não me canso de falar), achamos o café da Amélie Poulain! Para quem não sabe, "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é o filme favorito da Mina e o café onde se passa o filme existe de verdade.

Entramos os três, tiramos milhões de fotos e ficamos sendo observados pelos simpáticos franceses que pensavam: "mais fãs do nosso cinema". E eram realmente tão simpáticos que quando o Phil foi tentar comprar uma água para disfarçar, o atendente disse: "só uma água? vai aqui ao lado que tem uma fonte onde é de graça". E depois dali, partimos para o Moulin Rouge, tema do filme preferido do Phil. O antigo cabaré deu lugar a um teatro moderno onde um musical é encenado diariamente.

A viagem seguiu, a pé, em direção ao Museu do Louvre, uma maravilha gigantesca e linda, repleta de pura arte. A primeira a ser vista foi a Monalisa, cuja localização é indicada por placas espalhadas pelo museu com a foto dela e setas indicadoras (e ainda assim é possível rir dos grupos de japanoses que param qualquer membro do museu para perguntar... "Monalisa????"). O quadro é pequeno, mas Mona (para os íntimos) tem muito mais expressão pessoalmente. E é realmente interessante observar que ela te olha onde quer que você esteja. Medo.

O resto do museu é bem mais interessante, com pinturas maravilhosas e megalomanícas. E assim se foram 3 horas onde não vimos nem metade. E aí sentamos para esperar o telefonema do amigo que nos hospedaria. Mais de uma hora depois, uma mensagem de texto indica que tudo deu errado e... estávamos desalojados. Em Paris, à noite, sozinhos e sem teto. O que fazer?! Voltamos para o albergue na esperança de um quartinho ou pelo menos camas para os três. Conseguimos um quarto juntos. No sexto andar. Sem elevador. O banheiro do andar não só parecia com o anterior como era a metade do tamanho. Se o primeiro era uma prova do “Big Brother”, o segundo era uma prova do “No Limite”. Mas tínhamos um quarto e uma cama. E um americano do Texas na cama de cima da beliche escutando músicas mexicanas para dormir. Sobrevivemos.

Dia 3

Mais uma vez perdemos o café-da-manhã do albergue porque dormimos demais. Mas não desanimamos. Pegamos as coisas e fomos rumo à Catedral de Notre-Dame, um lugar impressionante de grande. Depois, mais um almoço e uma parada em um parque por algum tempo. Estava na hora de se despedir da cidade depois de uma visita rápida e voltar para casa. Fomos ao aeroporto com antecedência para evitar a corrida noturna. E lá esperamos. E esperamos. E esperamos. Quando o número do portão foi divulgado, percebemos que estávamos no Terminal 2 e o voo siria do Terminal 1. Pegamos o trenzinho do aeroporto e lá fomos andando, com a dor no dedo de volta. Chegamos ao Terminal 1, procurando, procurando e procurando. Achamos. E fomos informados de que o voo era no Terminal 2, estávamos enganados. Trenzinho de novo. Chegamos.

Ao passar por mais um controle de passaporte (até agora, a França parece ser o único país que também carimba a sua saída), fomos para um lugar estranho que parecia um limbo. Poucas lojas, pouca gente esperando e quase mais nada. Uma coisa meio "ilha de Lost". Entramos no saguão onde iríamos esperar pelo nosso avião. E vem o aviso: uma hora de atraso. E vem o segundo: uma hora e meia de atraso. E as barrigas roncam. Começamos a contar as moedas e fomos à máquina de biscoito. Compramos dois chocolates e um biscoito, já que a máquina engoliu o troco que serviria para o segundo biscoito. E a barriga ronca. Até que a família de australianos atrás de nós viu o olhar faminto que a Mina lançou para os sanduíches deles e ofereceu um. Barriga para de roncar. O avião chega - após um misterioso grupo de japoneses ter aparecido mais de uma hora depois do horário em que o portão seria fechado, ter entrado e sentado para esperar sem problemas (e só ter esperado um minuto).

Algumas vendas, turbulências e vômitos de criança depois, chegamos a Londres, sãos e salvos. E ao botar o pé na cidade, já conhecemos italianos simpáticos e interessantes e chegamos a tempo do último metrô para casa. É... Paris é maravilhosa, mas o recado está dado. Londres não vai nos deixar sair assim tão facilmente.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Embromation

Conversando com a Mina há pouco no ponto de ônibus, me veio um post à cabeça sobre algo que ainda não foi contado e acaba surpreendendo alguns amigos que vêm nos visitar: as expressões idiomáticas. Sabe quando a gente acha ridículo aquela pessoa que passou um tempo fora do Brasil e volta falando palavras em inglês no meio das frases ou dizendo que esqueceu como se fala tal palavra ou expressão em português? Pois não é fingimento! Com o tempo, algumas palavras que usamos muito acabam sendo substituídas e aí fica mesmo difícil se adaptar a falar como antes.

Pra começar: no início, parece ótima a ideia de conversar em português porque ninguém vai entender. Ledo engano. Vale contar a história da nossa amiga, feliz da vida, visitando Londres, em uma boate. Viu o barman sem camisa e começou: "Nossa, olha o corpo dele... que peitoral é esse... gente, ele é muito gato... que sorriso... ai, viu esse olhar que ele deu??". Pois bem, 5 minutos depois o mesmo barman pergunta: "Querem que eu tire uma foto de vocês?". Detalhe: em português. Já aprendemos que é bom tomar cuidado, pois tem sempre um brasileiro, português ou até alguém de Cabo Verde no mesmo lugar, que vai entender o que você está dizendo.

Outro erro clássico de principiantes: falar em português normalmente, sabendo que as pessoas ao redor são de outro lugar. Mas esquecendo que os nomes dos países são parecidos. Ou seja... falar de indianos ao lado de indianos é passível de entendimento porque "indiano" e "indian" ou "India" são palavras muito parecidas. Assim, temos que aprender a substituir, apesar de ficarem conversas mais longas. Os indianos viraram "grupo étnico". Hoje, indagando sobre os homens no ponto de ônibus, falamos sobre eles serem "do mesmo continente que o nosso" (bolivianos) ou "daquele continente dos olhos puxados" (Ásia), talvez "daquele país que teve guerra contra os Estados Unidos" (Vietnã).

Já sobre as palavras que a gente troca, fica até engraçado. A maioria é em relação ao trabalho. Nunca mais falamos que "o restaurante está cheio"... virou "o restaurante está busy". Ou falar sobre em que turno vamos trabalhar. Não é mais "turno", é "shift". E quando trabalhamos dois no mesmo dia, "double shift". O gerente já virou "manager", as libras viraram "pounds" e carregar o celular ou o cartão do metrô é fazer "top up". Isso além das palavras que transformamos em verbos em português... passar o esfregão é "mopar". Acaba virando uma nova língua.

Outra coisa engraçada que acontece: quando usamos uma expressão em inglês no meio da frase, é muito difícil continuar a frase em português. Exemplo: falaríamos "assisti ao filme 'An Education' hoje", mas sai "assisti ao filme 'An Education' today". E a Mina responde: "Ah, esse 'An Education', yes... é bom".

E como se já não bastasse tanta mistura, ainda temos o ambiente de trabalho, onde existe a necessidade de se falar mal dos colegas preguiçosos, especialmente chefes. E aí entram as palavras em outras línguas que determinadas pessoas não vão entender, especialmente palavrões em italiano como "cazzo". Mas talvez a expressão mais divertida utilizada por nós aqui seja, e essa foi inventada pela Bianca, nossa amiga, e é universal: post-it. Sim, o papelzinho amarelo de colar recados. A história é a seguinte: Bianca, bêbada, teve a "genial ideia" de colar post-its nas pessoas interessantes com o número do nosso telefone. Phil, sóbrio, não achou que seria uma ideia tão boa. Mas a ideia tão criativa e engraçada pegou. Assim, ao avistar qualquer ser humano "pegável", ou seja, atraente, soltamos: "post-it!". E com o tempo, vieram as variações. "Post-it ish" significa que é quase pegável, caso a ser pensado ("ish" é usado depois de qualquer palavra para dizer que é "mais ou menos", "ao redor de", "quase", etc). "Clips" é quando não ficaríamos de forma alguma. E "cartolina" é alguém tão fenomenal que post-its não seriam suficientes - e até hoje só foi usada uma vez.

E já que o assunto é conversa, vale ainda contar o que anda acontecendo com Mina e Phil: discussões intermináveis sobre os mais variados assuntos. Não no sentido de briga, mas no sentido de conversas quase filosóficas que vão desde o fato do gosto do purê de batatas estar diferente até o fato de os pombos de Londres piarem muito alto. O problema é que o limite do normal é às vezes extrapolado, como uma conversa de meia-hora, às 4 da manhã, sobre valer a pena ou não comprar um carro em Londres. Sendo que nenhum dos dois dirige e muito menos pensa em comprar um carro agora.

No final, parece conversa de gente maluca. E é.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Phil's Anatomy

Para começar o post: não é desculpa, mas serve como uma certa justificativa... o blog anda parado devido ao alto índice de visitas a Londres. Claro que amamos o blog, mas amamos ainda mais os nossos amigos que resolvem nos visitar, e como eles têm sido numerosos, falta tempo para pensar, sentar e escrever.

Agora indo ao assunto principal: como bons jornalistas que somos, decidimos investigar cada aspecto de morar em um lugar como Londres. E o sistema de saúde está entre eles. Por isso, Phil serviu como cobaia - já que tem a saúde mais debilitada que a da Mina (apesar de o fígado dele provavelmente estar melhor que o dela).

Tudo começou com uma estranha dor no estômago. A dor incomodava, incomodava e vinham os
palpites: "Devem ser gases", diz aquela tia velha em forma de consciência. "Toma um chazinho que ajuda", sugere a portuguesa que trabalha conosco. "Diminui o refrigerante", se mete alguém aleatório ouvindo a conversa alheia. E toma-lhe remédio para gases, chá e força de vontade para não beber Coca-cola. E nada da dor passar. Dois dias depois, já com uma intensidade maior, o Phil resolve viver a experiência de ir a um hospital londrino.

O prédio, todo espelhado e obviamente novo, fica em uma região central. A sala de espera daemergência é repleta de cadeiras acolchoadas, máquina de chocolate, máquina de água e uma TV de plasma digital. Álcool em gel para passar nas mãos, banheiro e recepção protegida por vidros. Phil acha que errou de lugar e foi parar em uma clínica dermatológica particular. 15 minutos depois, ele é atendido. Uau! Primeiro mundo! Um enfermeiro o examina e faz perguntas de praxe sobre outros sintomas. Ao final, responde: "Não sei o que você tem, mas vou te receitar esses analgésicos e você pode ir para casa". Primeiro mundo, uma ova! Analgésicos sendo receitados sem que se descubra a causa da dor.

Após uma noite horrenda, mesmo a base de paracetamol, Phil acorda sem aguentar de dor, mal conseguindo andar. Mina já está no trabalho. Phil pede ajuda para Elaine, até então nossa housemate (que já deixou a casa e foi substituída por um menino grego que agora mora conosco, mas ainda não produziu nenhuma história relevante que mereça um post). Phil parte para o hospital perto de casa. O prédio é mais antigo, mas todo arborizado, jardim cuidado e impecavelmente limpo. A emergência se parece mais com algo já visto: muita gente, pessoas passando mal, funcionários públicos entediados. Depois de cerca de 40 minutos, Phil é atendido pela primeira vez e começam os exames. Sangue, urina, pressão. Após algumas horas, chega o primeiro médico da aventura dolorosa.

A suspeita era de pedra na vesícula, o que provavelmente resultaria em cirurgia, mas o que seria improvável (porém possível) devido à idade do Phil. Mas a má notícia que cai como uma bomba: Phil terá que dormir no hospital. Na cama da emergência, o desconforto é grande, mesmo com a presença da Mina e duas malas preenchidas com laptop, caixa de DVDs, roupas, twix, cream craker, carregador de celular e outras coisas aleatórias que pensamos em pegar na correria. Calor, frio e pessoas indo e vindo o tempo todo. Emergência é emergência em qualquer lugar. E o Phil, ainda esperando diagnósticos, proibido de comer, mesmo depois do raio-x. Mais um médico e a suspeita sobre a pedra na vesícula fica mais forte - e depende de um ultrasom para ser resolvida. A parte engraçada é que a expressão "stones in the gall bladder" não significava nada para Mina e para Phil, já que "vesícula" não é uma palavra que se aprende no CCAA. E as inúmeras tentativas de traduzir a palavra no Google não funcionavam simplesmente porque não conseguíamos entender o nome do órgão em inglês (e como escrever). A solução foi a Mina até o médico e pedir, sem graça: "você pode escrever o nome do órgão para mim?".

Após a descoberta, começamos a pesquisa no Google pelo celular, para já saber do que se tratava. O soro continuava a toda, a fome aumentando e a enfermeira chinesa, que não cansava de pronunciar (e de maneira errada e irritante) a palavra "unfortunally", pronuncia mais uma vez para dizer a Mina que ela não poderia dormir ali (especialmente na cama improvisada no chão com um cobertor). E o desespero aumenta.

No meio da madrugada, Phil deixa a emergência em uma cadeira de rodas e vai para uma ala fria e escura, com nomes de lugares da região onde moramos identificando quartos e alas. Começa a sensação de estar em um filme de ficção onde zumbis devoram a cidade após uma epidemia. Chegando no quarto, um alívio: camas limpas e arrumadas, dois travesseiros, cômoda, ar condicionado, cortinas e profissionais de enfermagem atraentes chegando a pressão durante a noite. A manhã chega, as enfermeiras divertidas aparecem e Phil, mais aliviado, conhece seus companheiros de quarto. O filme de ficção se transformou em um seriado médico.

A enfermeira caribenha conta as aventuras sexuais com o espanhol que não falava inglês. O chinês da cama ao lado conta sobre as cirurgias que sofreu e explica a história de cada companheiro de quarto, inclusive o rabugento que não deixa as enfermeiras tirarem a pressão porque está no hospital há 9 meses e não vê mais sentido em ter a pressão medida a cada 4 horas. E nada de permissão para comer, o que faz as enfermeiras falarem a cada 2 horas: "vou checar se você já pode comer algo, pobrezinho".

Finalmente, o ultrasom é realizado e o médico, acompanhado por estudantes orientais de medicina altamente excitadas com tudo (e sendo mal-tratadas pelas enfermeiras) explica: não há pedras na vesícula. Uma crise muito forte de gastrite resultou em inflamação no estômago e infecção no sangue (a crise de gastrite foi agravada por, digamos, uma crise sentimental, mas isso é assunto para outro post). O tratamento é com antibiótico e pode ser feito em casa, já que a dor já havia diminuído consideravelmente. Finalmente, um prato de comida, acompanhado com olhares satisfeitos das enfermeiras e companheiros de quarto que não aguentavam mais o olhar faminto do rapaz que ali estava. E, quando Phil foi liberado, o chinês ainda pergunta, incrédulo: "você vai embora???". Deve ter sido a passagem mais rápida por aquele quarto - mas uma eternidade para alguém faminto e sofrendo de dor.

Vale mencionar que em nenhum momento foi pedido nenhum documento - passaporte, identidade, visto, absolutamente nada. O sistema de saúde inglês é entendido como sendo de direito de todos. E apesar das falhas na emergência, o serviço é realmente incrível, considerando que todos os remédios também foram fornecidos gratuitamente. E assim, nossos intrépidos viajantes vivenciaram um aspecto fundamental da vida por aqui e puderam documentar a experiência e dividi-la com nossos leitores.

Agora, afastando o assunto pesado - que ficou mais divertido agora que já, passou - finalizamos com o nosso tradicional diálogo:

- Phil, eu tenho sentido que a gente não tem tido tempo para conversar muito.

- Como assim, Mina?! A gente voltou ontem de ônibus conversando por mais de uma hora.

- É, mas... sei lá... a gente não tem conversado sobre tudo, sabe?! Sobre todos os assuntos.

- Mina... a gente está conversando sobre conversar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Rapidinha

Esse post é só para falar rapidamente sobre o meu aniversário aqui: os amigos brasileiros fizeram muuuita falta, mas pelo menos vocês podem matar um pouquinho das saudades com os vídeos que a maníaca da Mina fez. Vou publicar aqui os links e explicar um pouquinho:

- O aniversário começou com um almoço feito para mim por 3 amigos italianos: Chiara, Barbara e Riccardo.

- Depois, seguindo para o Hyde Park, o maior e mais famoso parque de Londres, onde fizemos um piquenique. O dia estava lindo e foram vários amigos, das mais diferentes nacionalidades. Foi lá o primeiro e o segundo vídeos, onde cantam "Happy Birthday".

- Seguidos para o Nando's, restaurante onde a gente trabalha, que vocês podem ver nos outros vídeos. Jantamos lá, jogando conversa fora.

- Acabamos a noite no já famoso Ku Club, onde nos divertimos com a performance de uma boy band horrorosa chamada Boy Banned (trocadilho péssimo), uma maluca com bambolês e uma drag queen que inventou um jogo onde duas pessoas colocam uma moeda na bunda, prendiam e tinham que soltar em um copo. Depois fazia o mesmo com um queijo e no final com um ovo. A Mina ia ser uma das participantes, mas a drag não gostou da cara dela e mandou ela sair.

Abaixo, os vídeos:








sábado, 12 de junho de 2010

No lado esquerdo do peito

Apesar de sempre acabar em choradeira (e às vezes começar também), receber os amigos aqui é um dos maiores prazeres que temos. Afinal, a saudade aperta cada vez mais e transferir para Londres qualquer atividade que costumávamos fazer no Rio de Janeiro ou Petrópolis é, no mínimo, interessante.

Assim, a onda de visitas começou mais ou menos na mesma época para os dois. Enquanto a Mina encontrava com o André, um amigo de Petrópolis, na Espanha, onde ele fazia intercâmbio, eu passava o reveillon com Mari Tozatto, amiga queridíssima da PUC, com quem fiz o primeiro semestre da faculdade. E de quebra, Sofia, a prima maravilhosa dela. Foi uma semana de compras de DVDs, andanças pela cidade no frio tremendo e muita diversão na noite de ano novo, quando nos encontramos pela primeira vez, enchemos a cara e celebramos 3 vezes (pela Inglaterra, pela Espanha e pelo Brasil) a chegada de 2010. Tudo com direito a nevasca inesperada no penúltimo dia.

Algum tempo depois, foi a vez do Flávio Tabak, amigo da PUC que trabalhava no O Globo, me visitar. Foram andanças, lugares turísticos, cervejinhas, cinema... tudo mais tranquilo, sem perdeção de linha. Uma semana mais cultural, de papos sobre a vida e passeios em Londres com boas companhias. O frio ainda pegava um pouco, mas os ventos já anunciavam as mudanças climáticas.

Teve ainda a Nina e o Felipe, casal querido de Petrópolis. Os dois moram na França e passaram poucos dias aqui, mas o suficiente para uma noite deliciosa de pizza e vinho, além das tradicionais gargalhadas e histórias a serem lembradas.

Após a chegada da Mina, a primeira visita foi inesperada. Enquanto ela trabalhava na barraquinha brasileira em Camden Town, um dos pontos turísticos mais visitados de Londres, um amigo da PUC, o Julio Molica, ficou quase meia-hora observando e pensando incrédulo que não era possível ser ela. Afinal de contas, nada mais fora de contexto do que a Mina uniformizada em uma feira londrina (para quem não estava acompanhando esse diário de viagem). O resultado foi uma tarde deliciosa de bebidas no parque e princípio de noite ao som de música pop, apesar da terça-feira ser pacata em terras londrinas.

Seguindo adiante, dois amigos e ex-companheiros de trabalho da Globo.com, Nilo e Edson estiveram por aqui e apesar de terem perdido a noitada com cerveja barata em um pub ótimo, participaram de uma noite em um bar espanhol com sangria em litro e mulheres aleatórias dançando em cima da nossa mesa. No final, ainda rolou uma tentativa de... deixa pra lá.

Além dos amigos, às vezes também surgem os amigos de amigos. E foi assim que conhecemos o Alberto, jornalista incrível do Agora São Paulo, representante do João Fernando, nosso amigo em comum. Foi uma semana de noitadas divertidíssimas, pegação, brasileiros aparecendo aos montes (provavelmente vindos de alguma caverna escondida por aí, porque eles surgiam quase como fumaça) e passeios por lugares de Londres ainda inexplorados. Mais um pra listinha de amigos que cresce.

Mais recentemente, e esse foi o motivo do post, Luiza deu o ar de sua graça na terra da rainha, depois de passar por Espanha (a trabalho) e Marrocos (de farra). Matar as saudades da amiga mafiosa foi incrível e a energia que emana dos três juntos não decepcionou. Fizemos passeios, conhecemos novos lugares, colocamos a conversa em dia e é claro que fizemos uma noitada como não fazíamos juntos há muito tempo. Começou com piquenique na praça, com direito à promoção querida de 3 garrafas de vinho por 10 pounds no supermercado, passou pela entrada no G-A-Y só para usar o banheiro (e garantir pulseiras de entrada grátis na Heaven) e acabou com os três mais uma amiga, a portuguesa revelação-da-noite Ana Raquel, e mais pessoas aleatórias que conhecemos, indo até o chão do já favorito Ku Bar. Claro que acabou com choradeira na estação de trem, fazendo com que ela ficasse com a mão estendida falando "ué... o meu trem era esse que foi embora?...".

E falando em amizades, achei que seria interessante falar também sobre os amigos daqui. Eles às vezes aparecem por posts discretamente, mas também merecem um lugar mais desenvolvido, já que ajudam a preencher um pouco do buraco eterno deixado pela falta que todos os nossos queridos leitores que estão no Brasil (ou ao redor) fazem. Fora do trabalho, temos a companhia da Regina, brasileira-coreana maluca e desbocada com um coração enorme, sempre nos chamando para "tomar umas" e ajudando a entender como fazer as coisas em terras inglesas. Foi onde na casa dela que passei o natal, comendo comidas brasileiras aos montes.

Ainda oriundos do Brasil, vem a Carol Marsiaj, que estudou na PUC comigo e onde o assunto "cinema" está sempre presente. Diretora de fotografia talentosíssima, os horários são mais difíceis de bater, mas de vez em quando a gente emenda em sessões de filmes e drinks. E foi ela quem apresentou a Nissrine, ou Niss, uma libanesa professora de dança engraçadíssima e companheira fiel de tardes no G-A-Y ou vinhos em algum pub onde o vendedor de flor deixa uma rosa de graça e leva o celular que estava em cima da mesa para compensar.

A Mina tem ainda a Angel, melhor amiga da infância dela, que nos introduz ao mundo dos tatuadores e rock pesado, além das histórias engraçadíssimas e noitadas que faz com a Mina de vez em quando. E eu, o Sebastiano, um suiço criado em uma região onde se fala italiano e que teoricamente trocaria comigo aulas de francês por aulas de português, mas que acabam sempre em conversas em inglês regadas a cerveja.

Falando no pessoal do trabalho, a lista é extensa - e alguns deles são leitores deste blog. Mencionar todos seria difícil, mas como a maioria não fala português, vale a pena passar mais rapidamente, já que o post já está longo. Chiara é uma italiana mãezona, primeira amiga que eu tive aqui e quem me fez companhia durante os meses solitários de frio. Uma menina linda, divertida, com peitos gigantescos (é impossível não reparar ou comentar) e um estereótipo delicioso de italiana. Outra da terra dos mafiosos é a Barbara, uma figura bem ao estilo da Mina, sempre sedutora e minha companhia de comida e comentários atrevidos sobre clientes do restaurante. Daqueles que falam português, impossível não mencionar a Bia, que insistiu para que deixássemos ela escrever um post aqui sobre as impressões dela, uma loirinha linda e que se revelou uma maluca de primeira na noitada em que fizemos juntos, onde ela já chegou bêbada e perguntou para uma mulher gorda se ela andava tomando fermento. Fora as vezes em que ela sumia e a encontramos gritando com alguém: "me adiciona no faceboooooook!".

Além disso, a Claudia, portuguesa querida que foi meu primeiro contato no restaurante onde trabalhamos, culta, inteligente e engraçada, é apaixonante à primeira vista. E ainda mora com Neto e Pedro, dois brasileiros figuras que trabalhavam no mesmo restaurante, onde faziam sucesso com a mulherada que ainda se decepciona ao não encontrá-los no Nando's. E seria imperdoável não mencionar Samantha, uma chinesa completamente louca, sempre excitada e pronta para vir com uma pergunta do tipo: "qual é a posição sexual preferida?". Detalhe: em pleno almoço e dirigida ao chefe.

É muita gente, das mais múltiplas culturas e nacionalidades, dos lugares mais remotos do mundo. Ninguém substituindo vocês todos que nos fazem tanta falta, mas nos ajudando a preencher a lacuna e fazendo nossos corações crescerem para abrigar tanta gente. E antes do texto virar sentimental demais, vamos ao tradicional diálogo final. Mas antes, lembrem-se que ele foi produzido às 4 da manhã, após litros de bebidas alcoólicas:

- Phil, sabe por quê você não se dava bem com quem você queria ficar na sua adolescência? Porque você não era sincero! A falta de sinceridade é o seu problema.

- Mina, do quê você tá falando, sua bêbada?! Quando eu não fui sincero? Me fala agora as vezes em que eu não fui sincero.

- Hoje, por exemplo. Acabei de dizer que você só não se dá melhor porque você é muito distraído, não percebe as coisas.

- Mas Mina, o que a minha distração tem a ver com não ser sincero?

- Phil, distração e falta de sinceridade são exatamente a mesma coisa! E-xa-ta-men-te!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Tonight's gonna be a good good night

Devo admitir que essa média de um post por mês não está muito legal. Vou tentar postar mais vezes e devo dizer que essa ideia de vocês pedirem coisas nos comentários funciona muito bem, porque ajuda a gente a pensar em novos posts e a pesquisar as coisas para contar por aqui. E para estrear essa novidade - além do novo visual do blog - vamos falar sobre os dois pedidos no post anterior: as farras e a movimentação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros).

A primeira coisa a se dizer sobre Londres quando vamos falar de farra é que existe uma diferença gritante com o Brasil e que você percebe da pior maneira possível: você chega em um pub às 23h e uma hora depois você é expulso. E quando você está xingando o pub, você percebe que todos estão fechados. O que acontece aqui é que os ingleses saem do trabalho direto para os pubs, o que significa que às 22h já tem gente caindo pelo chão de bêbada. E a gente, acostumado a pegar o último metrô para sair, começa a perceber que aqui eles pegam o último metrô para voltar. Passado o susto inicial, começamos também a achar os lugares que eles chamam de open late, ou seja, abertos até mais tarde. Basicamente, pubs em Camdem Town e as boites, aqui chamadas de nightclubs ou só clubs.

Cidade misturada que é, Londres oferece opções de farra para todos os tipos de público sempre. Os bairros acabam sendo divididos pelo tipo de pessoa, mas você só percebe isso na predominância de um certo tipo, porque é completamente normal que galeras de outras "tribos" frequentem a noite de grupos diferentes. Existe respeito e aceitação em qualquer lugar - e muitas pessoas nem mesmo percebem que frequentam um bar gay até alguém falar que esse bar é gay.

O bairro mais "moderninho" de Londres é o Soho, que fica perto de alguns dos lugares mais frequentados por turistas, o West End, lugar de quase todos os teatros com os mesmos musicais da Broadway. A maioria dos lugares do Soho é frequentada majoritariamente por gays, mas não exclusivamente, nunca. A ideia do bairro é de pessoas abertas e liberais, onde você encontra de tudo um pouco, mas onde acontece uma coisa engraçada de parecer que ali fica uma versão gay do Mc Donald's, uma versão gay da Starbucks, uma versão gay do supermercado Tesco. Tudo porque os principais cafés e restaurantes estão lá, mas onde normalmente são frequentados por muitos gays que saem dos pubs e clubs ao redor. O que acontece é uma concentração, mas não segmentação desse público. E é lá que você percebe que as coisas em Londres tendem a ser diretas e dizer exatamente ao que vieram, como um bar chamado G-A-Y (não poderia ser mais direto) ou um restaurante chamado Hamburguer. Portanto, é muito difícil alguém se fingir de desavisado do tipo "ah, eu não sabia que esse bar chamado G-A-Y era um lugar gay" ou "você sabe se no Hamburguer eles servem massa?".

Pertinho do Soho, fica ainda Chinatown, onde centenas de restaurantes e supermercados chineses disputam a preferência das pessoas (a comida é ótima, mas o atendimento é terrível, o que chega a ser engraçado) e onde fica um dos bares e clubs preferidos nossos, o Ku Bar (o que, é claro, rende piadinhas do tipo "vamos ali naquele Ku" ou "nossa, esse Ku tá cheio hoje"). Lá, a música é pop, as pessoas flertam muito e tem 3 andares: um lounge para os casais, um bar lotado e um nightclub que "bomba" depois da meia-noite, quando os dois primeiros andares fecham. E é lá onde trabalha uma baiana ótima no guarda-volumes (e quando eu digo "guarda-volumes", eu quero dizer casacos).

Falando da diferença entre Rio de Janeiro e Londres: nesses lugares, o público é mais tranquilo, não existe aquelas coisas de dark room (quem já viu, sabe o que é) e tudo é respeitado e seguro. Já vimos um casal gay levar os pais de um deles (que tinham obviamente mais de 70 anos) para um club onde um deles comemorava o aniversário. Existe também um lugar mais frequentado por casais onde a bizarra decoração traz bonecas Barbie peduradas de cabeça para baixo no teto do bar inteiro, que é subterrâneo. E sobre a "pegação", que muitos de vocês safadinhos querem saber, Londres fica no meio-termo entre Brasil e Espanha. O mais comum aqui é que você conheça alguém, troque telefones e passe a sair em dates, traduzido nas legendas dos filmes americanos como "encontros" e que é bem como nos filmes americanos mesmo. Sair para beber ou comer e no final da noite a Jennifer Lopez ou a Sarah Jessica Parker talvez ganhe um beijinho. Mas não é tão difícil conhecer alguém enquanto está dançando e trocar alguns beijos. Mas não espere nada no sentido de beijar várias pessoas na mesma noite - isso é quase surreal por aqui e ninguém entende quando explicamos como funciona no Brasil.

Em outro ponto da cidade, um bairro chamado Vauxhall abriga a night mais pesada de Londres, com raves, nightclubs de música eletrônica, muitos lugares gays e drogas pesadas rolando soltas. Nós nunca fomos porque somos pessoas fofas que preferem os lugares fofos, mas é um lugar badalado e que funciona até mais tarde.

Mais perto do centro, onde fica o Soho e Chinatown, funciona ainda um dos nightclubs mais famosos de Londres, chamado Heaven. De quinta a segunda, festas especiais e shows de artistas que bombam nas rádios daqui acontecem lá. Na segunda-feira, ela é invadida por brasileiros, já que é uma festa sempre anunciada nas revistas brasileiras que existem aqui. Lá, a música também é pop e o público, apesar de mais gay, é bastante misturado. E lá foi a nossa primeira farra para comemorar a chegada da Mina em Londres. Mas os detalhes são impublicáveis.

Basicamente, em resumo, o que as pessoas costumam fazer em Londres é sair para beber. Durante o dia, elas fazem isso nos inúmeros parques e praças que existem pela cidade, muitas vezes acompanhados de piqueniques. Durante a noite, vão para pubs. Quando querem emendar, vão para os clubs e normalmente fazem isso direto. Alguns até saem de casa para a night, mas a maioria que vive aqui há muito tempo vai emendando uma coisa na outra e prolongando assim o dia - e a ressaca do dia seguinte.

E para fechar o post, como está virando tradição, um diálogo entre Phil e Mina, quando estávamos dançando na Heaven:

- Ih, Mina, olha... o nome da atendente é Angel, como sua amiga.
- Não, Phil... o nome daqui é Heaven, tá na cara que todos os atendentes são chamados de Angel.
- Claro que não! Olha aquele barman. Vamos ver se ele responde: Angel! Angel! Angel!
- Pára de chamar que a menina tá olhando pra gente de cara feia.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Bye, bye España! Hello London!!

Pequena introdução

Foram 11 meses de estadia na Espanha. Apesar de eu sempre arredondar para um ano, foram na verdade 11 meses. Eu nunca tinha saído do Brasil e, de repente, entrei num avião para Espanha e só saí de lá 11 meses depois. Os primeiros seis meses vocês acompanharam pelo blog e os últimos 5 foram mais ou menos uma repetição dos primeiros, com a diferença que eu já falava espanhol de verdade.

Essa introdução foi só para lembrá-los de que a minha situação não é simplesmente a de uma brasileira que vem morar em Londres. Eu passei tanto tempo na Espanha que ouso dizer que parte daquela cultura e do modo de viver espanhol foi absorvido pelo meu próprio modo de viver e agora eu também tenho uma porcentagem espanhola dentro de mim, bem pequena, também tenho que admitir, mas ela tá lá, me fazendo ver o Reino Unido com olhos um pouco mais europeus do que latino americanos.


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O Reencontro

Vir morar em Londres teve mais ou menos o mesmo impacto que teve sair de Petrópolis e ir viver no Rio. Eu tava lá na Espanha, numa cidadezinha pequena, pacata, onde o todo mundo se conhece e o tempo não passa e, GRAÇAS AOS CÉUS, eu fui arrebatada(como diriam os evangélicos) e trazida para cá. É como se eu estivesse de volta ao Rio, reencontrei as multidões, reencontrei a diversidade de pessoas, comércio e possibilidades.

Lógico que aqui é um Rio de Janeiro carente do melhor, que são vocês meus amados amigos. Mas, inclusive com relação a amigos, minha vinda para cá foi um grande reencontro. Afinal, o Phil e eu, a dupla inseparável, estava ironicamente separada há meses e foi aqui em Londres que passamos a dividir a mesma casa novamente. Até o Júlio Molica, colega de faculdade, eu reencontrei, por acaso, passeando por uma rua em Camden Town, aquele bairro famoso, não porque lá mora a Amy, mas porque foi o primeiro lugar onde trabalhei aqui.

Parágrafo novo para anunciar aquilo que mais me deixou feliz ao chegar: depois de sete anos, finalmente reencontrei minha amiga Angel. Ela era como uma irmã perdida no universo e agora tenho ela aqui pertinho, morando na mesma cidade novamente.

Farras à parte, sabe o que eu tenho de volta? Uma vida laboral. Eu tenho emprego, dinheiro no fim do mês (na verdade aqui, no fim da semana), contas para pagar e até colegas de trabalho!! A vida não é incrível?!

E para fechar em grande estilo, em Londres eu tenho de volta nosso delicioso blog e vocês, amados leitores que com muito interesse continuam acompanhando nossa vida longe do Brasil e, por isso, merecem mais um diálogo:

Phil: Boa idéia essa de sempre colocarmos um diálogo no fim dos posts.

Mina: É, mas também um pouco difícil. A gente não fica por aí, falando coisas engraçadas e sendo interessante o tempo inteiro.

Phil: ah! Mas aí a gente inventa!!