quarta-feira, 8 de julho de 2009

Simplemente Madrid

Depois de dias parado, finalmente o blog ganha um post gigante sobre as aventuras em Madrid. Exaustos, doídos, com olheiras, estamos vivos e finalmente faremos um resumo sobre essa semana incrível. Até consideramos postar do albergue aos poucos, mas era impossível ficar mais de uma hora descansando.

1º dia, quinta-feira - A Chegada


O sol fritava cada poro do nosso corpo. A chegada ao albergue parecia a chegada a uma pequena república nórdica onde todos eram loiros, brancos e de olhos claros (e algumas pessoas matariam para estar lá). Fomos recebidos em nosso quarto por dois australianos que seguiam esse padrão físico e não se importavam em andar ou dormir de cueca, mesmo nas presenças femininas. Até que o número 13, do quarto (que a Mina não sabia até o último dia), nos deu sorte, já que todos os companheiros que passaram por lá (e muitos a gente nem chegou a ver acordados) tinham o mesmo ritmo: chegar de manhã e dormir até depois do almoço.


Chegando à noite, pensem no nosso espírito resolvendo a seguinte equação:

Mina + Phil + metrópole cosmopolita na Europa = ...

Decidimos seguir o enorme fluxo de gente e descobrir onde era a boa da noite. E assim paramos em uma praça absolutamente lotada de gente, em sua maioria homens (gays e héteros). Parecia um self-service onde quem quisesse poderia montar seu homem ideal: havia de todas as cores, tamanhos e estilos. As poucas mulheres presentes eram bonitas e não muito arrumadas. E foi para uma dessas, que parecia muito simpática, que decidimos perguntar o porquê do lugar estar tão lotado. Será que Madrid era sempre assim? A resposta que ouvimos foi na verdade uma pergunta: "Vocês estão brincando, né?". Explicamos a situação e a notícia caiu como uma bomba na nossa cabeça: "essa é a semana do orgulho gay, a única semana em Madrid em que é liberado beber na rua". Calculem:

Mina + Phil + metrópole cosmopolita na Europa + semana do orgulho gay + beber na rua = ...

Seguimos conhecendo pessoas aleatórias na rua (quase todas bêbadas), conversando e rindo até que o Phil acabou na boate Studio 54 e a Mina acabou se arrependendo de ter bebido meia garrafa de Gim.




2º dia, sexta-feira - O Príncipe

A sexta-feira começou com ressaca e um quase arrependimento de enfiar o pé na jaca logo na primeira noite. Turismo? Museus? Passeios culturais? Impossível. Só havia forças para... compras! E assim tivemos que nos controlar nas rebajas, os descontos que estão em todas as lojas da cidade e que chegam até 70% (a ponto de pagarmos 5 euros por uma bermuda de qualidade ou 10 euros por um vestido lindo).

No final da tarde, lembramos de ligar para um garoto que conhecemos no Couch Surfing (site onde as pessoas oferecem seus sofás para desconhecidos ou, no caso de não poder receber alguém, se dispõe a tomar um café ou drink e apresentar a cidade). E foi aí que Mina conheceu seu príncipe francês, que não chegou em um cavalo branco, mas em uma roupa social, um sorriso simpático e um sotaque divertido (ele falava português bem e o jeito extremamente tímido conquistou rapidamente nossa intrépida viajante).

Depois de um chope, fomos convidados a acompanhá-lo em uma saída com alguns amigos. Sem saber o que esperar, fomos. E no cair da noite, chegamos a um bar português lotado, onde não havia mesas ou cadeiras. Todos ficavam em pé, pagavam pelas bebidas e ganhavam tapas de graça (os pedaços de pão com coisas variadas em cima). Os amigos chegaram juntos: um mexicano, dois eslovenos e um italiano. Começava a nossa saga da noite falando em inglês, espanhol e português. E o momento mais engraçado: um boliviano completamente embrigado que resolveu ficar amiguinho da Mina, sem falar coisa com coisa. Até agora não sabemos o que ele perguntou e muito menos o que respondemos.



Desse bar e de uma passagem relâmpago por um clube de jazz onde o show já havia acabado, fomos ao Chupito, um bar alternativo onde pedíamos shots variados ao preço médio de um euro. Havia desde um que era servido em um copinho feito de casquinha de sorvete, até um drink onde a garçonete colocava fogo no copo e, claro, a última e mortal tequila, oferecida de graça para o grupo. E o pé entrava na jaca novamente...



O grupo de estrangeiros, com direito a muitas gargalhadas, seguiu para a Chueca, o bairro gay que ficava perto da praça da véspera. Percebemos que todo mundo por lá gosta de desafiar a lei da física de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Foram muitas tentativas até que chegamos ao "El Tigre", um bar lotado, no mesmo esquema "paga a bebida e ganha a comida" com a diferença de que eram pratos enormes de batatas fritas picantes e deliciosas, pães com coberturas ainda melhores e bolinhos de arroz incríveis. A jornada não poderia estar melhor: amigos de todas as partes do mundo, comida de graça, bebida barata e o inevitável "Eu Nunca" proposto adivinhem por quem.

Obrigatório contar que, a essa altura, Mina e seu príncipe já haviam virado um casal. E a noite acabou de forma mais light e bem Madrileña: comendo churros com chocolate em uma cafeteria.



3º dia, sábado - A Parada

O dia começou em um piquenique organizado pelos nossos amigos internacionais no Parque do Retiro, onde há um lago e as pessoas ficam em barquinhos remando. E na tarde tranquila e ensolarada, descemos a rua e, ao cruzar o portão do parque, uma multidão insandecida aguardava o início da Parada Gay de Madrid.

Eles já tinham planejado ir para a Parada, que tem o diferencial de que, na Espanha, todos fazem gostam de ir e participar, de qualquer orientação sexual. Paramos todos para olhar as marchas que pediam uma Espanha laica e os carros alegóricos temáticos que vinham depois. Além de muito divertidos, eles produziam chuvas de penas rosas ou serpentinas coloridas no céu de Madrid, uma visão incrivelmente bonita e gay na cidade.


Diferentemente do Brasil, na versão espanhola as pessoas dançam, pulam, se fantasiam, mas não se pegam. Não há a beijação generalizada brasileira e chegamos à conclusão de que isso acontece porque em Madrid os homens andam de mãos dadas e se beijam em público sem serem apontados ou ridicularizados, e por isso não precisam de um dia específico para liberar o instinto libertinoso.

Enquanto nossos amigos iam para casa descansar (!) antes de sair à noite, ficamos na companhia de Júlia, uma amiga brasileira, e Eder, um português engraçadíssimo e mucho loco que conhecemos naquele dia (era amigo de uma amiga da Júlia, que também não o conhecia) e que nos acompanhou noite adentro.


O sábado intenso seguiu com uma festa particular nada animada (onde a Mina foi encontrada por mim dormindo profundamente no sofá) e mais uma dose de "El Tigre", com comidas, bebidas, multidão enlouquecida, brasileiros sendo identificados após mandar um ¡hola, guapo! e muita andança pela cidade lotada.

4º dia, domingo - Lavapiez

Sendo a Espanha o país católico que é, domingo é dia de ir a igreja, o que significa que a maioria das coisas está fechada na cidade. Isso fez com que aproveitássemos para descansar e tentar recuperar as energias, sem saber o que ainda viria.

Chegando à noite, fomos encontrar Julia no Lavapiez, o bairro dos imigrantes, onde vivem muitos africanos, indianos (com seus restaurantes), latinos e chineses, onde as drogas são vendidas mais facilmente, as ruas são ocupadas por restaurantes étnicos interessantes e bares mais alternativos e todos os hippies têm sua vez.

Tentamos a sorte de encontrar um bar que interessasse ao mesmo tempo a nós, à Julia e ao príncipe francês. Foi difícil. Acabamos descendo a rua, encontrando Sam, americano amigo do Phil há anos e que estava morando em Madrid, e indo a outro lugar quando Julia e Laurian precisaram ir embora (vale um adendo de que, por uma coincidência bizarra do destino, o príncipe francês chama-se Laurian e é de Nantes, mesma cidade de Florian, o francês que conhecemos e foi mencionado em um post anterior).

A noite com Sam acabou com mais dois amigos americanos, todos sentados bebendo cerveja em uma praça cheia de gente e jogando o "um limão, meio limão", um jogo para quem já está com seu nível etílico alterado.

5º dia, segunda-feira - Turismo

Enfim, um dia de turismo. Ou de tentativa. Descobrimos que os museus estavam todos fechados, com exceção do Reina Sofia. Mas antes de partirmos para lá, fomos com Sam ao Palácio Real de Madrid. Um lugar enorme, bonito, com muitos salões, mas extremamente parecido com o Museu Imperial de Petrópolis. Já que não era muito novidade para nós, podemos dizer que o momento mais divertido foi a crise de gargalhada que tivemos ao fazer uma piadinha na sala de jantar e imaginar os nossos amigos comendo strogonoff no salão enorme do lugar. A vista também era incrível, onde víamos boa parte da cidade.


Depois de muita andança, fomos até o Reina Sofia, passando por lugares lindos, parques rodeados de estátuas onde casais gays ficavam juntos no jardim e homens com camiseta da seleção brasileira faziam exercício em praças. Aproveitamos para almoçar em um restaurante barato mas muito ruim, o que rendeu uma tarde nada agradável a Sam, que voltou para casa.

Enquanto isso, visitamos o Reina Sofia, dedicado à arte moderna, o que significa obras sem nenhum significado aparente, quadros homoeróticos, bonecos coloridos, exposição de fotografia e esculturas de homens sendo brutalmente assassinados, tudo lado a lado.

E a noite dessa vez teve duas convidadas especiais: as brasileiras Fernanda e Renata, que conhecemos no albergue, quando Fernanda criticou o excesso de jogos de tênis que os americanos assistiam no lounge. As gargalhadas deram o tom da noite, mas quando íamos para casa, desiludidos por não achar nada interessante para fazer até a madrugada, fomos convidados por um promoter a conhecer um pub que havia no caminho. E assim descobrimos onde andavam todos os turistas da cidade que eram um pouco mais novos do que a gente: no "Pub Crowl", um evento onde se paga 10 euros e ganha-se o direito de conhecer, em grupo, 4 pubs e uma boate, ganhando uma cerveja em cada lugar.

Não achamos nada atraente a ideia de só sair com turistas, para bar de turistas e ainda pagar por isso. Mas como achamos a galera por acidente, decidimos ficar um pouco. Foi assim que turistas australianos resolveram adorar o Phil, dar uma rosa e uma cerveja de presente (o que gerou o comentário de um americano: "dude, where did you get this rose?" e a resposta "an australian girl gave me and said: to remenber the austrian love). Gente bêbada é muito legal!

A noite fechou com chave de ouro: finalmente - e por acidente - acabamos em um clube de salsa, onde Phil encarnou o latin lover com seu chapéu estiloso e a rosa australiana e Mina mostrou seus dotes de dançarina semi-profissional.



6º dia, terça-feira - A Despedida

O último dia foi marcado por dores fortes na perna de tanto andar, cansaço extremo, ressaca e, ainda assim, nenhuma vontade de ir embora de Madrid. Decidimos nos separar, já que o Phil já conhecia o Museu do Prado e não tinha condições físicas de percorrer tudo de novo. Enquanto Mina via o Jardim das Delícias, Phil decidiu ir aos jardins do Parque do Retiro e ler um pouco embaixo das árvores, aproveitando o sol quente e a brisa que resolveu aparecer.

A noite também começou separada: Mina acompanhou o príncipe francês em um jantar indiano de despedida dos eslovenos - que iriam voltar para a cidade em que nasceram, com 200 (!!!) habitantes. Já Phil, foi despedir-se de Sam, ao lado de amigas americanas dele e de Fernanda, a brasileira de Cuiabá, do albergue.

No cair da madrugada, Mina foi até a caverna que servia de pub onde Phil, Sam e Fernanda se embebedavam animadamente para marcar a última noite da cidade. Com os quatro juntos, a conversa ficou animada até o bar fechar, cedo, às 3h da manhã. Seguindo por ruas lindas e desertas, o vento gelado anunciava mudanças e esfriava o calor de Madrid entranhado em nossas veias há seis dias. Nos despedimos de Sam, pegamos o ônibus noturno e seguimos para o albergue.



Dia 7, quarta-feira - O Fim

Como o trem de volta era às 7h, paramos na recepção do albergue e emendamos, com Fernanda, um papo sobre homens, mulheres e relacionamentos, até a hora de abertura do metrô. Fizemos o nosso primeiro, último e único café-da-manhã no albergue (normalmente dormíamos enquanto ele era servido) e as expressões em nossos rostos bebendo chá era a mesma (e quem nos visse, ia achar que estávamos morrendo).

Nos despedimos do lugar, cruzamos a porta, entramos no metrô e seguimos para a estação de trem. O vento da madrugada já havia levado embora a nossa alma, parecíamos dois corpos vagando em direção ao fim da nossa melhor semana até agora. Voltamos exaustos, com alguns quilos a menos e sem nossos corações, partidos e abandonados na capital espanhola.

6 comentários:

  1. A quem interessar possa, JACÀ, e não jaca, é um cesto onde se colocavam mercadorias nos antigos armazéns. Como ficavam perto do balcão era normal que os fregueses distraidos enfiassem o pé, literalmente no jacá. Infelizmente os globais preferem inventar e acabar com a cultura sabe-se lá por que.
    Da série James também é que nem o Ideafix e desmaia quando cai uma árvore na floresta.

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  2. Que coisas mais lindas de sonho... lendo e me dando muita muita vontade de viajar! Muita felicidade por vocês estarem aproveitando tudo isso... hoje vou começar a juntar dinheiro pra ir praí, pronto, decidido!

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  3. que vontade louca de viver essas aventuras!!!

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  4. Semana inesquecível, hein!

    Pena que a Mina não ficou 20 horas só analisando o Jardim das Delícias. hahahahahahaha

    Que vontade de passear...

    Beijos!!!!!

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  5. os comentários do papai são os melhores FATO'

    ÓOOOOOOOUN, muito fofos *----*
    amei amei amei !!!!!

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  6. puta que o pariu, vocês aproveitaram e MUITO bem. que delicia, to morrendo de inveja,
    AH e a proposito meu irmao diz que agora eu sou uma alcoolatra, que ele nao bebe mais .. é ruim hein, tu acha que engana quem? HAUIHOAUHAUIHA
    beijos amo (L)

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