sábado, 18 de julho de 2009

Estudiantes otra vez

Depois de nos recuperarmos da semana exaustiva (física e emocionalmente) em Madrid, nada melhor do que voltarmos à vida de estudante: aulas, estudos e novos amigos. A data do curso em que havíamos nos matriculado veio a calhar e assim fizemos "O Cinema no Século XXI: Profissão e Indústria", que começou na segunda e terminou na sexta.

A cada dia, um professor diferente dava uma palestra e uma oficina. O primeiro dia foi na Universidade de Alicante, que é grande e bem bonita. Para chegar até lá, um calvário que nos fez entender nossos amigos que moravam longe da PUC: acordávamos com o céu escuro, pegávamos o primeiro trem, que passa na estação às 6h52, e uma hora depois, chegávamos a Alicante. Lá, tomávamos o ônibus que vai para a Universidade e passa de 8 em 8 minutos, mas demora mais meia-hora até chegar. E claro que no primeiro dia nos perdemos dentro da faculdade e só nos achamos depois de um funcionário indicar e dar um mapa (e o Phil ainda conseguiu dar informação para um estudante perdido, que descobriu no mapa onde era o prédio de Direito).

A primeira aula foi uma palestra sobre direção de arte, com uma diretora excelente de um filme que assistimos aqui há duas semanas (já sabendo que todos os profissionais do curso tinham participado dele). Chama-se "Lucia y El Sexo" e está disponível no Brasil. É interessante, vale a pena ver (apesar de a gente não ter entendido algumas coisas porque não tinha legenda).



No intervalo, o momento engraçado ficou por conta de nós dois achando que o banheiro era unisex e comentando como a Espanha era moderna por isso. Até descobrirmos que na verdade todos os banheiros do primeiro andar eram masculinos e algumas mulheres desavisadas usavam assim mesmo (e a expressão dos homens ao ver mulheres dentro do banheiro era muito engraçada, reparamos depois).

No horário de almoço, aproveitamos para dormir no chão, perto do jardim, o que gerou olhares incrédulos de alguns passantes e nos fez refletir o porquê de ser normal dormir na grama, onde é cheio de formiga e terra, mas é anormal dormir no chão de pedra ao lado (talvez seja o fato de o Phil ter dormir em cima de um jornal, como um mendigo, mas não sabemos ao certo).

No dia seguinte, as aulas passaram a ser no centro de estudos de um lugar chamado Ciudad de La Luz, que fica longe da cidade (a gente pegava um ônibus de graça, oferecido pela Universidade de Alicante, o que aumentava em mais meia-hora o nosso trajeto). Trata-se de um complexo de estúdios tipo Projac que tem uma espécie de faculdade tipo PUC, ou seja, um lugar bem familiar. Mas ficarmos só nós dois conversando era muito chato e falar em português era antipático, então decidimos falar em espanhol para tentar fazer alguma amizade. E assim eu mirei no alvo, eleito como o mais guapo da classe e que tinha olhado o dia todo para a Mina, na véspera. Ofereci chiclete, ele aceitou e entendeu a senha para perguntar: "Que idioma vocês falam?". E assim fizemos nossa primeira amizade, com Adrian, que estuda para ser professor primário e é extremamente tímido.



Maaas... nem tudo são flores. Ao ver que o menino agora falava com alguém, uma loira vaca resolveu "roubar" Adrian e praticamente manipulava a atenção dele na aula e no ônibus que seguia para a aula. Assim, ele passou a andar com ela (que fazia questão de ignorar a nossa presença e existência) e fomos obrigados a fazer mais amizades. E assim conhecemos três meninas mais do que fofas: Patrícia, de Madrid, Sacri, de Alicante (mas que vai morar em Manchester, na Inglaterra) e Marga, de Mallorca (de longe, a mais engraçada).

Foi com elas que garantimos risadas e os momentos mais divertidos do curso, aprendendo espanhol e falando mal de Emílio, o assistente do curso que pode ser definido como... fanfarrão. Ensinamos também que a loira era uma "vaca" (que elas adoraram e ficavam referindo-se a ela como la rubia 'vaca'), ensinamos palavrões, comidas típicas (elas acharam muito estranho a gente comer uma leguminosa preta que dá um caldo preto chamado "feijão") e tivemos que explicar porque caímos na gargalhada quando o professor falou ese niño puñetero ("esse menino enjoado" ou "chato").

Ah, sim! E as aulas... tivemos oficina de direção de fotografia com um profissional premiado e aparentemente muito bom e conhecido na Espanha, mas que não tinha didática alguma, o que nos fez ficar entendiados. Também fizeram uma mesa redonda, onde uma polêmica tomou conta da discussão quando uma mulher disse que acha errado que o governo espanhol subvencione os filmes, porque o dinheiro poderia ser aplicado em outra coisa. O diretor que estava na mesa, irritado, disse que a mulher (que era professora universitária do governo) tinha tanto direito quanto ele de receber dinheiro público. E que as pessoas precisam de cultura e entretenimento também. Só que um espanhol discutindo é um pouco mais... caloroso. E ninguém tem papas na língua, então eu e a Mina ficávamos tensos enquanto o resto da turma permanecia alheio ao climão. Vale também contar que a discussão sobre o cinema espanhol é exatamente igual à do cinema brasileiro ("os filmes são todos sociais", "o público não prestigia o cinema nacional", "o preço do ingresso é caro", "não se fazem blockbusters nacionais", "não deveriam fazer blockbusters nacionais", "não se faz cinema sem dinheiro público", etc).



A oficina de direção de atores também foi ótima, a de trilha sonora muito interessante e a de montagem foi excelente, tirando o fato de que já sabíamos tudo aquilo (foi uma aula mais para quem não conhecia praticamente nada do processo). A vantagem foi que nossas amigas espanholas perguntavam muitas coisas, o que fez com a gente soubesse que todos entenderam que já éramos profissionais experientes (e muito modestos, como vocês podem ver). Aliás, as pessoas que conversavam com a gente ficavam impressionadas como já tínhamos experiência profissional com 25 anos. Pelo o que pudemos entender, enquanto no Brasil fazemos estágios e começamos a trabalhar cedo, na Espanha eles viajam pelos países vizinhos e aprendem idiomas (e eu sinceramente não quero julgar o que é melhor).

No último dia, como bons brasileiros, convidamos nossas amigas para tomar uma cerveja depois do curso, para marcar o último dia. Sacri não pode nos acompanhar, mas Patrícia e Marga participaram e fomos a uma lanchonete muito interessante, onde o esquema era: você pede um montadillo (sanduíche de mini pão francês com sabores diversos, como frango com olho picante, salmão com philadelfia, queijo brie com pimentão e mais outros 40 sabores) e a jarra de chope (individual, mas grande) sai a 1 euro. E você ainda ganha batatas fritas (tipo "Lays") de graça.



O Phil, que hoje em dia é fraco para bebida, já ficou tonto no primeiro chope. A Mina tomou três e ficou apenas levemente alegre (mas o suficiente para brincar de fazer caretas e imitar uma menina de mais ou menos 6 anos no ônibus e passar horas falando sobre como tinha sido divertido e como o pai da menina era legal de deixá-la brincar assim). Marga voltou para Mallorca e Patrícia voltou hoje para Madrid, mas não sem antes fazer uma noitada em Alicante com alguns amigos e a Mina (o Phil deu uma de velho e foi para casa exausto, suado e mal-humorado, graças às poucas horas de sono na noite anterior).


E assim, rindo, brincando, fazendo amigos, sacaneando o assistente e prestando atenção nas oficinas, recebemos nosso primeiro diploma de um curso espanhol, 30 horas, na Universidade de Alicante, sobre cinema no século 21. E, de quebra, ainda ouvimos o diretor do curso fazer o mesmo discurso que alguns professores de cinema da PUC fazem após seis meses de aula ("espero que agora vocês não vejam mais o cinema como meros espectadores"). Saldo positivo. Que pena que acabou.

4 comentários:

  1. enquanto isso e aquilo, por aqui o grande sucesso é a música "Você não vale nada mas eu gosto de você", da Banda Calcinha Preta na novela da globo, válida para o diploma de jornalista, e para o time do meu fluminense que está caindo mais a cada dia que passa.
    beijim prá todos

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  2. o melhor de tudo, é o próprio Pihl se xingando disso q de aquilo... no início eu ainda pensei que fosse a Mina escrevendo !

    essa música só faz sucesso pq ta em caminho das índias --'
    se fosse créu todo mundo ia achar que tem toda uma poesia tbm rs

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  3. Adorei! hahaha vaca loira foi ótimo!
    Nem tenho muito oq comentar, muito bom acompanhar a viagem de vcs por aqui! Beijos =*

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