quarta-feira, 29 de julho de 2009

A grande batalha

À primeira vista, parecia que teríamos mais um carnaval: um grupo de homens passou vestido de mulher e mexeu com a Mina. Tudo indicava que a tal festa dos "Moros y Cristianos" seria nada mais que um bando de gente bêbada e fantasiada se pegando. Mas não foi bem assim.

Para começar, uma informação importante sobre a Espanha que ainda não havia sido compartilhada (porque até então tivemos sorte): as pessoas não "ficam", não se "pegam". Não existe isso de, em uma festa, como carnaval, um homem jogar um papo e beijar uma mulher. O que acontece é que os espanhóis entendem que o beijo é o começo do sexo. Então, se você beija um espanhol ou espanhola, isso significa - para ele(a) - que vocês vão transar. Por isso, é normal que você conheça alguém, converse, saia outras vezes e só depois de várias vezes é que vão se beijar - porque isso significa que vão fazer sexo.

Dito isso, voltemos à festa: o objetivo das pessoas é beber para... beber. Todos ficam bêbados,
dançando, cantando e andando em grupos.
Durante a festa, que dura cinco dias, existem kabillas, que representam as tendas antigas dos mouros, cristãos ou beduínos. Cada grupo se reúne em uma tenda - e todos têm definido, desde que nascem, se são dos mouros, cristãos ou beduínos, é tradição de família. Pode-se mudar, mas é muito improvável. E o curioso é que os espanhóis passam o ano todo com preconceito contra os ditos "mouros" (pessoas provenientes de certas regiões árabes), mas durante a festa é muito mais legal ser mouro do que cristão. Nessas kabillas, há bandinhas de músicas tocando a noite inteira e você passa por experiência parecidas com a do carnaval, como encontrar o gerente do seu banco completamente bêbado e dizendo "Holaaa Philippeee, que tal, hombre?". As mais legais eram as maiores: a do rei mouro e a do rei cristão.


Durante o dia, há o desfile. É interessante, mas quem já viu carnaval no Brasil, acha tudo mais ou menos. O primeiro dia é dos cristãos, que dura uma hora e meia, e o segundo dia é dos mouros (cujo desfile é infinitamente mais bonito e nos remete imediatamente a "Aladdin"), que dura duas horas e meia. Quando acaba, todos vão para suas respectivas kabillas para jantar. E depois de algumas horas, já de madrugada, as kabillas são liberadas e distribui-se bebida de graça para todos. Cada cidadão de VillaJoyosa que participa dessa festa desembolsa, em média, mil euros, sendo que mais da metade vai em bebida (para os locais e os turistas).



Agora vocês imaginam... todas as noites, o nosso destino era a rua, onde bebíamos (a Mina mais que o Phil), andávamos e... acabava por aí. Camila, nossa amiga brasileira de Villajoyosa, nos fez companhia todas as noites. E o momento alto foi no dia em que a Mina resolveu sacanear um espanhol depois de uma ideia brilhante do Phil, escolheu um e disse, em português: "Nossa, eu te levaria para casa e te fazia todinho!". Claro que a frase originou gargalhadas dos três e aconteceu o seguinte diálogo:

Espanhol: - Oi! Não ouvi o que você falou porque está muito barulho.
Mina: - Não foi por isso. Foi porque eu falei em português.
Espanhol: - E o que você falou para mim?
Mina: - Não posso dizer, desculpa.
Espanhol: - E por quê eu fui o escolhido?
Mina: - Porque tinha que ser alguém bonito.

E foi aí... que o espanhol correu. Sim. Ele c-o-r-r-e-u. Frouxo? Não. Espanhol.

Depois de noites e noite em claro e uma banda insuportável tocando as mesmas músicas o dia todo na janela de casa, chegou a grande noite do dia 28, quando acontece a encenação do
chamado "Desembarco Moro", que só acontece em Villajoyosa. Antes de falar do evento, um pouco de história para contextualizar:

Em 1538, os cristãos estavam acampados na costa espanhola. Inesperadamente, os mouros chegaram em seus barcos, à noite, e depois de desafiados pelo rei cristão, lutaram e tomaram o
castelo, conquistando assim o território espanhol. No dia seguinte, porém, já preparados, os cristãos atacaram e reconquistaram o terrotório, que ficou sob domínio deles.

O desembarco reconstitui a conquista dos mouros. São preparados barcos que levam os espanhóis que representam os mouros com suas fantasias, enquanto os que representam os cristãos ficam em tendas armadas na praia, comendo, bebendo e observando os barcos chegarem. Tudo começa por volta das 5 da manhã, quando alguns espanhóis, que interpretam os soldados, atiram (com balas de mentira, obviamente) contra os mouros. A platéia acompanha tudo da calçada em arquibancadas.



Como tínhamos credencial de imprensa, acompanhamos tudo bem de perto, da beira do mar,
misturando-se à encenação e aos repórteres e cinegrafistas profissionais, com direito ao repórter da TVE (a TV estatal espanhola, que possui diversos canais e é a mais importante do país) perguntando ao Phil quando a verdadeira batalha aconteceu. E como todos os outros jornalistas, tínhamos que vestir a túnica branca (ou casaca) para não destoar da encenação.

Com nossas câmeras amadoras, conseguimos registrar boa parte do desembarco todo e depois o Phil fez uma edição - em um program amador também (por isso, não reparem nas imagens tremidas ou cortes bruscos de áudio) - para que vocês possam ver um pouco do que é festa. O desembarco, sim, é algo completamente diferente de tudo que já vimos e uma festa incrível que vale a pena presenciar, algo da cultura espanhola e difícil de ser entendida por quem nunca viu de perto. Confiram o vídeo:



Fotos tiradas pela Mina:

Fotos dos desfiles:

Outras cidades espanholas realizam os desfiles e as festas em outros dias. Em Villajoyosa, a festa dos mouros e cristãos acontece antes da festa da padroeira, Santa Barbara, emendando uma festa na outra e garantindo uma semana inteira de folga.

E para finalizar: fomos desafiados aqui no blog a não sermos imparciais e assumirmos uma posição entre os mouros ou cristãos. A princípio, os mouros parecem mais interessantes. Mas a ideia de um mundo dominado por árabes islâmicos não parece muito interessante também. Foi aí que o Phil decidir ficar do lado dos beduínos. Eles não têm desfile, eles não participam do desembarco... foram renegados. Portanto, Phil é beduíno desde criancinha, o que originou o diálogo:

Phil: - Vou ficar do lado dos beduínos. Muito mais legal!
Mina: - Phil... você só quer ser do contra.
Phil: - Não, tenho muito mais a ver com eles, essa coisa de ser nômade.
Mina: - Desde quando você quer ser nômade?
Phil: - Ué, eu adoraria viver em Londres, Paris, Madrid, Nova York... só que em apartamentos confortáveis, quem disse que nômade precisa viver em acampamento?
Mina: - Ok, você venceu.

4 comentários:

  1. UAHSUAHUSHAUHSUAHSUAHSUAHSUAH
    AMEI AMEI E AMEI os diálogos...
    as conclusões da Mina sobre o Phil são sempre as melhores !!!
    amo vocês *-* ♥ :*

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  2. ah sim, o Phil tem que ser cronista de jornais ou revistas, tanto faz... rio muito com os textos(y)'

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  3. Enquanto isso, aqui na terrinha a salineira diminui distâncias e aproxima as pessoas (eles dizem).
    enquanto isso também, os meus times tricolores continuam fudidos, o Flu perdeu mais uma, são 10 rodadas sem vitória, e o glorioso esporte clube bahia empatou 2 x 2 com o juventude, e deve continuar na segunda divisão.
    Fomos eu e tete no cabo vinho 2009, apesar de não beber vinho pois me dá desarranjo intestinal. poderia postar foto aqui mas como não sei como faz, vejam na minha página do orkut

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  4. Os diálogos são os melhores! rsrs

    Adorei os posts, se continuarem assim, Mina Pink e Phil Cérebro conquistarão o mundo de fato! =P

    Visitarei com mais frequência!

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