quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Phil's Anatomy

Para começar o post: não é desculpa, mas serve como uma certa justificativa... o blog anda parado devido ao alto índice de visitas a Londres. Claro que amamos o blog, mas amamos ainda mais os nossos amigos que resolvem nos visitar, e como eles têm sido numerosos, falta tempo para pensar, sentar e escrever.

Agora indo ao assunto principal: como bons jornalistas que somos, decidimos investigar cada aspecto de morar em um lugar como Londres. E o sistema de saúde está entre eles. Por isso, Phil serviu como cobaia - já que tem a saúde mais debilitada que a da Mina (apesar de o fígado dele provavelmente estar melhor que o dela).

Tudo começou com uma estranha dor no estômago. A dor incomodava, incomodava e vinham os
palpites: "Devem ser gases", diz aquela tia velha em forma de consciência. "Toma um chazinho que ajuda", sugere a portuguesa que trabalha conosco. "Diminui o refrigerante", se mete alguém aleatório ouvindo a conversa alheia. E toma-lhe remédio para gases, chá e força de vontade para não beber Coca-cola. E nada da dor passar. Dois dias depois, já com uma intensidade maior, o Phil resolve viver a experiência de ir a um hospital londrino.

O prédio, todo espelhado e obviamente novo, fica em uma região central. A sala de espera daemergência é repleta de cadeiras acolchoadas, máquina de chocolate, máquina de água e uma TV de plasma digital. Álcool em gel para passar nas mãos, banheiro e recepção protegida por vidros. Phil acha que errou de lugar e foi parar em uma clínica dermatológica particular. 15 minutos depois, ele é atendido. Uau! Primeiro mundo! Um enfermeiro o examina e faz perguntas de praxe sobre outros sintomas. Ao final, responde: "Não sei o que você tem, mas vou te receitar esses analgésicos e você pode ir para casa". Primeiro mundo, uma ova! Analgésicos sendo receitados sem que se descubra a causa da dor.

Após uma noite horrenda, mesmo a base de paracetamol, Phil acorda sem aguentar de dor, mal conseguindo andar. Mina já está no trabalho. Phil pede ajuda para Elaine, até então nossa housemate (que já deixou a casa e foi substituída por um menino grego que agora mora conosco, mas ainda não produziu nenhuma história relevante que mereça um post). Phil parte para o hospital perto de casa. O prédio é mais antigo, mas todo arborizado, jardim cuidado e impecavelmente limpo. A emergência se parece mais com algo já visto: muita gente, pessoas passando mal, funcionários públicos entediados. Depois de cerca de 40 minutos, Phil é atendido pela primeira vez e começam os exames. Sangue, urina, pressão. Após algumas horas, chega o primeiro médico da aventura dolorosa.

A suspeita era de pedra na vesícula, o que provavelmente resultaria em cirurgia, mas o que seria improvável (porém possível) devido à idade do Phil. Mas a má notícia que cai como uma bomba: Phil terá que dormir no hospital. Na cama da emergência, o desconforto é grande, mesmo com a presença da Mina e duas malas preenchidas com laptop, caixa de DVDs, roupas, twix, cream craker, carregador de celular e outras coisas aleatórias que pensamos em pegar na correria. Calor, frio e pessoas indo e vindo o tempo todo. Emergência é emergência em qualquer lugar. E o Phil, ainda esperando diagnósticos, proibido de comer, mesmo depois do raio-x. Mais um médico e a suspeita sobre a pedra na vesícula fica mais forte - e depende de um ultrasom para ser resolvida. A parte engraçada é que a expressão "stones in the gall bladder" não significava nada para Mina e para Phil, já que "vesícula" não é uma palavra que se aprende no CCAA. E as inúmeras tentativas de traduzir a palavra no Google não funcionavam simplesmente porque não conseguíamos entender o nome do órgão em inglês (e como escrever). A solução foi a Mina até o médico e pedir, sem graça: "você pode escrever o nome do órgão para mim?".

Após a descoberta, começamos a pesquisa no Google pelo celular, para já saber do que se tratava. O soro continuava a toda, a fome aumentando e a enfermeira chinesa, que não cansava de pronunciar (e de maneira errada e irritante) a palavra "unfortunally", pronuncia mais uma vez para dizer a Mina que ela não poderia dormir ali (especialmente na cama improvisada no chão com um cobertor). E o desespero aumenta.

No meio da madrugada, Phil deixa a emergência em uma cadeira de rodas e vai para uma ala fria e escura, com nomes de lugares da região onde moramos identificando quartos e alas. Começa a sensação de estar em um filme de ficção onde zumbis devoram a cidade após uma epidemia. Chegando no quarto, um alívio: camas limpas e arrumadas, dois travesseiros, cômoda, ar condicionado, cortinas e profissionais de enfermagem atraentes chegando a pressão durante a noite. A manhã chega, as enfermeiras divertidas aparecem e Phil, mais aliviado, conhece seus companheiros de quarto. O filme de ficção se transformou em um seriado médico.

A enfermeira caribenha conta as aventuras sexuais com o espanhol que não falava inglês. O chinês da cama ao lado conta sobre as cirurgias que sofreu e explica a história de cada companheiro de quarto, inclusive o rabugento que não deixa as enfermeiras tirarem a pressão porque está no hospital há 9 meses e não vê mais sentido em ter a pressão medida a cada 4 horas. E nada de permissão para comer, o que faz as enfermeiras falarem a cada 2 horas: "vou checar se você já pode comer algo, pobrezinho".

Finalmente, o ultrasom é realizado e o médico, acompanhado por estudantes orientais de medicina altamente excitadas com tudo (e sendo mal-tratadas pelas enfermeiras) explica: não há pedras na vesícula. Uma crise muito forte de gastrite resultou em inflamação no estômago e infecção no sangue (a crise de gastrite foi agravada por, digamos, uma crise sentimental, mas isso é assunto para outro post). O tratamento é com antibiótico e pode ser feito em casa, já que a dor já havia diminuído consideravelmente. Finalmente, um prato de comida, acompanhado com olhares satisfeitos das enfermeiras e companheiros de quarto que não aguentavam mais o olhar faminto do rapaz que ali estava. E, quando Phil foi liberado, o chinês ainda pergunta, incrédulo: "você vai embora???". Deve ter sido a passagem mais rápida por aquele quarto - mas uma eternidade para alguém faminto e sofrendo de dor.

Vale mencionar que em nenhum momento foi pedido nenhum documento - passaporte, identidade, visto, absolutamente nada. O sistema de saúde inglês é entendido como sendo de direito de todos. E apesar das falhas na emergência, o serviço é realmente incrível, considerando que todos os remédios também foram fornecidos gratuitamente. E assim, nossos intrépidos viajantes vivenciaram um aspecto fundamental da vida por aqui e puderam documentar a experiência e dividi-la com nossos leitores.

Agora, afastando o assunto pesado - que ficou mais divertido agora que já, passou - finalizamos com o nosso tradicional diálogo:

- Phil, eu tenho sentido que a gente não tem tido tempo para conversar muito.

- Como assim, Mina?! A gente voltou ontem de ônibus conversando por mais de uma hora.

- É, mas... sei lá... a gente não tem conversado sobre tudo, sabe?! Sobre todos os assuntos.

- Mina... a gente está conversando sobre conversar.

3 comentários:

  1. HAHAHHAHAHAHAHAHA amei!! que bom que já melhorou, assim eu posso rir '-'

    tadinho do grego, ele é tímido? ou é apenas uma pessoa normal que não é cheio de histórias como as pessoas que vcs conhecem?? hahaha

    vcs são lindos demais, bj bj ♥

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  2. Ai Lad, vc é tão sensacional! Que aventura bem contada!
    Muitos beijos!!
    Jujah

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  3. aaaaaaaaaaaaaaaaai tadinho do meu ursinho carinhoso mais gostoso do unioveeeeeerso!!!

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